Momento de pagar promessas! Apesar de evitarmos falar de emuladores por aqui, mas desta vez resolvi (me) abrir uma pequena exceção para falar de emuladores de computadores clássicos que foram desenvolvidos para serem executados também em computadores clássicos (obviamente que de uma geração anterior ou, em alguns casos, até de um contemporâneo). A ideia central é mostrar que a emulação, em geral, não é nenhuma novidade que só se tornou possível nos últimos tempos pelo aumento, quase obsceno, do poder de processamento dos computadores. Val lembrar que a primeira versão do Microsoft BASIC foi feita em um simulador de ALTAIR rodando em um PDP-10.
Nem tudo é felicidade: infelizmente a QL Today, a última revista impressa dedicada ao Sinclair QL (iniciada em 1996!), vai ter seu último número em setembro.
Uma matéria bem interessante da Arstechinica sobre a evolução das fatias de mercado (obviamente focado nos EUA) entre computadores pessoais, smartphones (aqueles computadores que fazem e recebem telefonemas) e os tablets (aqueles computadores em que você compra o teclado depois).
No último 23 de agosto a Sony encerrou as operações do SCE Studio Liverpool, o local que, até 1993, o mundo mundo conhecia com o nome de Psygnosis. Para quem não sabe, uma das mais antigas produtoras inglesas de jogos e responsável por séries (mais que) clássicas como Barbarian (não confundir com Barbarian: The Ultimate Warrior — aliás, outro clássico!) Lemmings, Shadow of the Beast e tantos outros títulos.
A Psygnosis foi fundada em 1983 e comprada pela Sony em 1994, quando passou a fazer integrar a Sony Electronic Publising, especializando-se na produção de jogos para esta plataforma. Em 2001, ela passou a chamar-se SCE Studio Liverpool, nome utilizado até o encerramento das operações.
Agora está lançando para iOS os The King of Chicago (que teve versões para Amiga, Atari ST, DOS, Macintosh e, acreditem, Sharp X68000) e o já citado, Defender of the Crown. Mas se você prefere os clássicos, saiba que a Cinemaware tem seus jogos clássicos disponíveis para download.
Werner Randelshofer é um estudante suíço que organizou uma coletânea de trabalhos de computação gráfica de computadores domésticos das décadas de 1980 e 1990, são trabalhos originalmente desenvolvidos para Atari ST, Commodore Amiga, IBM-PC e SAM Coupé. Tanto em formato que pode ser visualizado diretamente pelo navegador web como também, aí sempre que possível, com o arquivo original para ser exibido diretamente no computador clássico original.
Há quase de 20 anos Chris Huelsbeck (que é o compositor original da trilha sonora do jogo!) lançou o álbum Turrican Soundtrack e durante algum tempo ele pensou em produzir uma sequência digna da primeira obra. Agora ele resolveu tomar coragem para produzi-la mas precisa de uma ajuda financeira para tocar este projeto. Assim ele está recorrendo ao Kickstarter e, claro, à quem quiser ajudar!
Justamente quando você acredita que está atualizado com o universo retrocomputacional uma inocente pesquisa no Google e acaba com esta ilusão. Foi assim que descobri o FireBee, fruto direto do Atari Coldfire Project (ACP), um projeto iniciado em 2002 e que ainda está em desenvolvimento. Conta com a participação de 37 pessoas na produção de um clone de Atari 16-bit baseado no processador Coldfire da MotorolaFreescale e disponível ao público pelo menor preço possível (portanto utilizando a maior quantidade possível de implementações e subprojetos abertos e/ou livres).
Interfaces legadas do Atari 16-bit: IDE (TT/Falcon), disquete (ST/TT), SCSI (TT), ACSI (ST), ROM port, porta de impressora, porta serial (ST/TT), MIDI, som mono (ST), teclado e mouse.
Novas interfaces : saída de vídeo DVI, fast-ethernet, USB 2.0 (5 portas), porta para cartões CF e SD, som estéreo (no padrão AC’97), PS/2 e game-port, PCI
Possibilidade de operar com alimentado por bateria (cerca de 1 hora de autonomia)
E tudo em uma plaquinha com tamanho de 90mm x 260mm x 20mm (vejam a foto, o tamanho de uma placa de vídeo). Já encontra-se em pré-venda, algumas especificações podem ainda ser alteradas e o preço é de €599,00 (+frete).
Quem acompanha o Retrocomputaria Podcast há algum tempo vai se lembrar dos episódios 11 (sobre CP/M) e também o 12 (sobre Commodore versus Atari). Pois é, isto aqui está relativamente ligado a eles! Não é recente, na verdade já é até bem antigo, de 2008, mas um hacker alemão chamado Andre Pfeiffer resolveu levar paz às duas comunidades ou, o provável, colocar mais lenha na fogueiragasolina no incêndio.
O que ele fez?
Se aproveitando de uma característica do Amiga 1000, a carga do KICKSTART (BIOS, ou firmware se quisermos ser mais “modernosos”) a partir do disquete, ele resolveu adaptar o TOS, o sistema operacional do ATARI ST, para rodar nele!
Até aí nada de mais pois existem vários emuladores de ATARI ST para AMIGA como, por exemplo, o CHAMALEON. Mas no vídeo não está havendo emulação, e sim a execução do TOS de modo nativo no hardware do A1000. Acontece que a área da memória onde o KICKSTART é carregado tem 256Kb e já que o TOS ocupa 192Kb acabam sobrando uns 64Kb para se colocar todas as rotinas específicas para a arquitetura do AMIGA.
E como disse o autor, só queria tê-lo feito há 20 anos!
E onde entra o CP/M na história?
O sistema operacional dos ATARI ST, o TOS, é um sujeito chamado GEMDOS e que é uma versão empacotada de CP/M para 68000 com a interface gráfica GEM, ambos da DIGITAL RESEARCH. E, conforme dito no episódio 11, o CP/M foi originalmente concebido para rodar em vários modelos de computadores com processadores i8080 (ou Z80), que apenas uma parte dele, o BIOS, era responsável pelo acesso ao hardware e que precisava ser escrita para cada equipamento. Nesta arquitetura as aplicações escritas pelo CP/M conseguiriam ser executadas sem necessidade de ser compilada para cada máquina em específico.
E justamente o TOS herdou tudo (de bom e de ruim) destes caras, principalmente a arquitetura que já previa uma certa “abstração de hardware” (consultem nos verbetes da Wikipedia sobre a BIOS do CP/M e a VDI do GEM).
Antes do atirador em primeira pessoa, houve o pensador em segunda pessoa… É assim que você é apresentado ao “GET LAMP“, o documentário sobre os text adventures, dirigido pelo arquivista e historiador da computação Jason Scott. Aliás, este é o segundo documentário dele no tema: O primeiro foi “BBS: The Documentary” (dividido em 8 episódios e cobrindo cerca de 25 anos de histórias sobre as bulletin board systems, as BBS).
Text Adventures?
As Text Adventures, ou IF (Interactive Fiction) como hoje são conhecidas, são um gênero de jogo eletrônico em que toda a interação com o usuário faz-se a partir de sentenças de texto, tanto a descrição do que está ocorrendo como a ação que o jogador deverá tomar. Para exemplificar melhor, o trecho de um jogo do gênero para Apple II chamada Leadlight:
> IN THE LINVILLE STUDENT LIBRARY
It is night. You are in the Linville
student library. The hum of idle
computers and photocopiers permeates the
ordered maze of books. The stacks are to
the south, the toilet is to the west and
the foyer is to the east.
You see the corpse of Charlotte.
You see a library desk.
You see an iPod
WHAT NOW?_
Como assim iPod? Acho que esqueci de dizer que Leadlight é de 2011…
Em uma época em que a capacidade gráfica, sonora e de processamento dos primeiros computadores pessoais era bastante limitada eles tornaram-se o principal gênero de jogos consumidos por seus usuários.
GET LAMP
Ele é composto por dois DVDs, o primeiro contendo o documentário propriamente dito e o outro com os trechos não incluídos das entrevistas (por exemplo as partes contendo spoilers sobre um ou outro jogo – há inclusive o imperdível “o spoiler para todos os jogos já criados!“) e uma série de outros arquivos. E por outros arquivos entenda: as músicas utilizadas no documentário, as fotografias, a arte da embalagem, versões digitalizadas de propagandas, os jogos (sim!) e muito mais – aliás, confesso que ainda não consegui analisar todo o conteúdo do segundo disco.
Ao colocar o primeiro DVD no aparelho você descobre que junto com o GET LAMP (disponível para ser reproduzido nas versões “interativa” e “não interativa”) estão ainda dois mini documentários: O primeiro é uma visita guiada realizada pelo Jason Scott na caverna Mammoth, localizada no estado do Kentucky/EUA, que é o maior sistema de cavernas do mundo e a inspiração para criação do primeiro text adventure. O segundo é sobre a INFOCOM, a mais bem sucedida empresa do ramo e a criadora da série Zork.
Com relação ao documentário, prepare-se para muita história: Você será apresentado aos mais diversos personagens, como exploradores de cavernas, professores, acadêmicos, colecionadores, desenvolvedores e, claro, jogadores (de longa data) deste gênero de jogos (e de outros também). A narrativa começa com o surgimento do gênero nos anos 1970, sua ascensão e eventual declínio comercial no final da década de 1980. Depois, ele trata do legado, estilo, forma de concepção, seu uso como ferramenta educacional e até mesmo de inclusão (qual jogo pode ser jogado por um cego?). Finalmente, ele encerra-se com o ressurgimento e redescoberta, com a popularização da Internet a partir da década de 1990. No final, os entrevistados respondem sobre o futuro das IF.
O documentário está disponibilizado sobre a Creative Commons-Attribution-Sharealike-NonCommercial, ou seja, ele é de livre distribuição. Porém se você quiser adquiri-lo, ele custa US$ 40,00 + US$ 9,00 (frete internacional) e pode ser comprado diretamente em http://www.getlamp.com (aceita-se PayPal).
Confesso que realmente vale a pena, tanto pelo conteúdo, como pelo acabamento de todo o material e até mesmo pela moedinha de colecionador incluída no pacote! E para terminar, claro, o trailer do documentário:
É pura retrocomputação!
Nota: Jason Scott está com dois outros projetos na cabeça, e busca financiamento para executá-los. Que tal você também ajudá-lo?