[UPDATE] Quinta do pitaco em edição extraordinária: A Zilog larga a mão do Z80.

Os círculos retrocomputacionais (e os não tão envolvidos com a retrocomputação) amanheceram ontem agitados por conta desse comunicado da Zilog, anunciando que ela irá parar de produzir os Z80.

O Z80 está morto! Vida longa ao Z80!

Calma que eu explico tudo aí embaixo. Ao contrário de alguns, eu pesquisei a respeito.

Infelizmente, muita gente não pára e lê o comunicado e começa a especular um monte. Parecem até meus alunos… Mas divago.

Bem, o que este comunicado afirma é que a Zilog (hoje uma empresa do grupo Littelfuse)  informa que ela descontinuará a produção do Z80 DIP de 40 pinos. Sim, o chip clássico, lançado em 1976 era ainda fabricado e vendido pela Zilog… E será até a última remessa a ser entregue. Pedidos poderão ser feitos até 14 de junho de 2024.

Vamos a algumas perguntas e respostas:

  • Isto significa que a Zilog está abandonando a arquitetura que a consagrou? Não,. A Zilog continuará a fabricar os processadores Z180 e eZ80, em versões CMOS de 44 pinos. Aliás, como eu ouvi em um grupo hoje, “enquanto calculadora TI-84 continuar a ser a única aceita em provas nos EUA, vão continuar fabricando eZ80“.
  • Quais serão os processadores que serão descontinuados? Serão 13 processadores, todos da família Z84C00 (o que inclui os DIPs de 40 pinos). Se você quiser a lista, está neste PDF disponível no site da Mouser. Na verdade, é a página 2 do documento cuja imagem abre esse post, então…
  • Isto significa que a Zilog não vai mais fabricar Z80? Pelo visto, sim. A família que ela encerrou a produção, a Z84C00, inclui as versões CMOS (a quadradinha, de 44 pinos) e a NMOS (DIP de 40 pinos).
  • Isto significa que não haverão mais Z80 para compra? Não, isto não significa a morte comercial do Z80. Isto significa apenas que a Zilog não fabricará mais Z80. Qualquer entusiasta de retrocomputação sabe que a Zilog licenciava a arquitetura, e outras empresas fabricavam seus processadores compatíveis com o Z80. De cara, lembro da Sharp, Toshiba e NEC, mas a lista é bem maior: Mostek, Synertek, SGS-Thomson, Kawazaki, NEC, Sharp, Toshiba, Rohm, GoldStar (LG), Hitachi, National Semiconductor e outros. Dez empresas, e eu puxei a cola da Wikipédia. Gente, teve clone de Z80 feito na antiga Alemanha Oriental! Logo, nada impede que uma dessas empresas resolva produzir processadores Z80, inclusive com mudanças.

Deixa eu dar dois exemplos:

A história do 6502.

Chuck Peddle (falecido em 2019) projetou este processador seminal no mundo da computação, que foi fabricado pela MOS Technology, a “empresa de chips da Commodore”. A Commodore faliu em 1994, e a MOS, que já tinha trocado de nome, para CSG (Commodore Semiconductors Group) continuou até 2001. E o 6502? Bem, a Western Design Center (WDC) começou a produzir uma versão CMOS dele, o 65C02, em 1981. E continua até hoje, com vendas na casa das centenas de milhões de chips.

Deixa eu repetir: Centenas de milhões de chips. Em 2024. E vocês acham que outras empresas não irão produzir o Z80, um processador tão popular quanto o 6502?

Empresas que produzem processadores Z80 compatíveis.

A Kawasaki fabrica um Z80 compatível, CMOS de 44 pinos, o KL5C8400. Ele pode atingir até 33MHz, sendo uns 25% mais rápido que o Z80 básico em clocks por instrução e uns 66% mais rápido que o Z80 + M1 wait do MSX. Ou seja, de uma forma bem grosseira, usar a versão de 33 MHz seria como acelerar um MSX a 50 MHz. Inclusive, se você quiser ler, no já longínquo ano de 2020 (o ano da pandemia), o Jurgen Kramer fez uma placa para usar um desses em um MSX. Caso você tenha dificuldades ou falta de tempo para ler o que está escrito, vai aqui um resumo: Funciona se o seu MSX usar apenas SRAMs, e não DRAMs – o que é bom para um Omega (e eu começo a ter ideias… Droga). O aumento de performance foi de 20%. Inclusive já é possível encontrar no mercado placas com o KL5C8400 soldado e com os pinos para usá-lo em substituição a um Z80 DIP de 40 pinos.

Ou seja, a Zilog não vai mais produzir, mas outros fabricarão. Tem mercado, e ela licencia a tecnologia. E olha que eu nem entrei no mérito dos FPGAs (a panaceia universal de muita gente), ou dos ASIC customizados.

Conclusão

Qualquer coisa além disso é especulação e viagem na maionese… E é claro, como o pessoal nas comunidades retro são bons nisso. Em poucas linhas a conversa saiu do Z80 e descambou para o ARM, o RISC-V, FPGA, Linux, Windows, o projeto MSX Goua’uld, TANG Nano 20K… Em resumo, aquela salada mista que as comunidades retro sabem fazer muito bem. Aí eu me lembro desse meme aqui que resume tudo de forma magistral:

Enquanto isso, eu comprei um Zilog Z80 DIP 40 pinos em 2022, para o Omega 1. E funciona muito bem.

PS: Uma das fontes que eu usei foi esse artigo do Gareth Halfacree, no Hackster.

PS 2: Quando eu falo que parece aluno, não é brincadeira. Contar um causo rápido… Na última prova que coloquei questões de conversão de base (decimal para binária), tinha a seguinte observação: Coloque os cálculos na parte de trás da prova. Eu destaquei esse trecho em negrito. E eu tive pelo menos meia dúzia de alunos me perguntando: “Fessô, é pra fazer os cálculos na parte de trás da prova?“.

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.

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