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O último dia da Dick Smith

Quando vocês estiverem lendo este post, já estamos no Primeiro de Maio na Austrália, o que significa que a Dick Smith Electronics não existe mais, já que o último dia de operação da empresa foi 30 de abril.

O final foi deprimente, mas este não é um blog de fechamento de empresas, e sim de retrocomputação.

Falamos da Dick Smith algumas vezes neste blog, e, bom, achamos que é um bom momento para repostar este vídeo do Terry “Tezza” Stewart sobre o Dick Smith System 80.

Requiescat in pace, Dick Smith Electronics.

O Ataque dos Clones – Parte 3

Clones

(Este artigo é uma tradução do original de Jimmy Maher, no blog The Digital Antiquarian.)

⇐ Parte 2

Por outro lado, o Compaq Portable, lançado no início de 1983, também foi bem-sucedido por ser um produto de qualidade excelente e — não obstante as opiniões de J. Flannigan — inovador. Ao lançar um portátil antes da própria IBM, a Compaq provou que clones não precisavam ser cópias desprovidas de originalidade e com apenas um preço menor a título de diferença. Lembrando que “portátil”, em 1983, não significava o mesmo que significa hoje. O Portable era maior e mais pesado (12,5 kg) do que a maioria das máquinas desktop de hoje em dia. Era carregado como uma mala de viagem, não deslizado suavemente para dentro do bolso ou da mochila. Ele nem sequer tinha bateria, ou seja, o profissional em viagem podia exercer sua computação “portátil” apenas no quarto do hotel. Ainda assim, era um projeto extremamente inteligente dadas as limitações técnicas da época: por exemplo, ele podia ser conectado a um monitor maior e com gráficos coloridos em vez do pequeno monitor mono embutido de 9 polegadas — um primeiro passo para as docking stations de hoje em dia.

Por uma feliz coincidência, tudo isto acontecia enquanto algumas trapalhadas de fabricação, junto com a demanda inesperadamente alta pelo recém-lançado IBM PC/XT, tornou os micros da IBM difíceis de conseguir em algumas regiões. Isso fez o Portable decolar como um foguete. Foram vendidas aproximadamente 53.000 unidades no primeiro ano, gerando uma receita de 111 milhões de dólares; um recorde entre start-ups de tecnologia. A IBM, vendo-se na estranha posição de ter que correr atrás, lançou seu próprio portátil no ano seguinte, com menos capacidades mas — e isto foi realmente inacreditável — mais barato que o Compaq Portable.

Ao forçar a toda-poderosa IBM a competir em preço, a Compaq aparentemente virou o mundo de cabeça para baixo. O Portable PC da IBM foi um fracasso comercial, e consequentemente o primeiro sinal de que a IBM começava a perder o controle sobre o monstro que criou. Enquanto isso, a Compaq respondia lançando, no mesmo ano e com grande sucesso, sua própria linha de desktops: os DeskPro.

A Apple atacava a IBM em comerciais melodramáticos e se declarando em batalha do Bem contra o Mal representado pela IBM. Mas a IBM parecia nem notar os “combatentes da liberdade” da Apple. O único concorrente que realmente importava, a única empresa que legitimamente metia-lhes medo, não era a estilosa Apple, mas a quadrada e careta Compaq.

Mas a Compaq estava longe de ser o único problema da IBM. O processo de clonagem só fazia ficar mais e mais fácil, para qualquer um. No primeiro semestre de 1984, duas pequenas empresas chamadas Award Software and Phoenix Technologies anunciaram produtos idênticos quase ao mesmo tempo: BIOS IBM-compatíveis, legalmente produzidos por engenharia reversa, disponíveis para serem licenciados por qualquer um disposto a usá-los para fazer um clone. E muitas empresas fizeram exatamente isso, arremessando a Phoenix e a Award ao topo do que logo se tornou um próspero nicho de mercado (a rivalidade entre as duas logo seria resolvida como empresas civilizadas o fazem: com uma fusão). Com o fim da última dificuldade significativa para fazer um clone, o processo se tornou uma trivialidade, mera questão de juntar um punhado de componentes, o MS-DOS e um BIOS, montar e jogar porta afora; um hobista ambicioso poderia fazer tudo isso em casa, se lhe desse na veneta. Em 1986, clones foram vendidos em quantidade consideravelmente maior que micros da IBM, cujas vendas patinavam.

Nesse mesmo ano, a Intel começou a produzir o microprocessador 80386, a terceira geração das CPUs que moviam os IBM PCs e seus clones. A IBM decidiu esperar antes de fazer uso do novo chip, considerando que o de segunda geração (80286), em uso no bem-sucedido PC/AT de 1984, era poderoso o suficiente para o momento atual. Foi uma péssima decisão, baseada num grau de dominação que a IBM já não possuía. A Compaq sentiu cheiro de oportunidade e fez seu próprio micro baseado no 80386, o DeskPro 386 — o primeiro a usar o novo chip. Até este momento, os clonadores sempre se satisfizeram em deixar a IBM desbravar o caminho em avanços fundamentais como esse. O DeskPro 386 marca a chegada da Compaq, e da indústria de clones em geral, à idade adulta. Não mais ao sabor das ondas deixadas pela IBM, limitando-se a ajustar formatos, preços e capacidades, agora eles estavam determinando os eventos. Já em novembro de 1985, Bill Machrone (colunista da PC Magazine) vislumbrava aonde tudo isso ia levar: “Agora que ela [a IBM] criou o mercado, o mercado não precisa mais da IBM para obter as máquinas.” Vemos aqui a computação corporativa sofrendo sua segunda grande transformação (a primeira foi a transição do CP/M para o MS-DOS). O que antes era um ecossistema da IBM e de seus clones, tornou-se um conjunto de padrões; às vezes menos do que ideais, às vezes acidentais, mas ainda assim um foco de consenso maior do que a IBM ou do que qualquer um. A IBM, segundo Machrone, deveria passar a se ajustar aos padrões ou sofrer as consequências, como todo mundo. Sintomaticamente, é por esta época que a expressão “clone de IBM” começa a desaparecer, dando lugar a “máquina MS-DOS” ou “máquina Intel”.

O rolo compressor Microsoft/Intel (note-se a ausência de “IBM” na designação) acabaria conquistando também os lares. Pelo meio dos anos 80, algumas variedades da espécie já começavam a manifestar características que poderiam atrair o usuário doméstico. Vamos voltar um pouco no tempo e dar uma olhada no mais importante destes, que mencionei em alguns artigos anteriores mas nunca dei-lhe o crédito devido.

Quando o pessoal da Radio Shack, sem ideias sobre o que fazer com a já envelhecida linha TRS-80, olhou para o fracassado IBM PCjr, viu coisas dignas de serem salvas: o chip gráfico de 16 cores e o sintetizador de som de três vozes, ambos muito superiores ao que podia ser encontrado nos irmãos maiores. Por que não clonar esses componentes, colocá-los dentro de um clone de PC razoavelmente convencional, e vender o resultado como o PC perfeito, no qual poderiam ser rodados aplicativos críticos de negócios mas também jogos com a qualidade daqueles do Commodore 64 com os quais as crianças estavam acostumadas? Graças ao bombardeio de mídia que acompanhou o lançamento do PCjr, havia várias editoras de software com estoques imensos de títulos que davam suporte ao audiovisual do PCjr, e muito dispostas a livrar-se deles bem barato. Com esses títulos para dar força, quem sabe aonde as coisas poderiam chegar?

Lançado no final de 1984, o Tandy 1000 foi o primeiro clone de IBM a ter como público-alvo não tanto o escritório, e sim o consumidor. Além das melhorias audiovisuais e preços agressivos, incluía o DeskMate, uma interface de usuário mais ou menos pré-GUI projetada para isolar o usuário das complicações do prompt do MS-DOS e dar acesso rápido a seis aplicações embutidas. Uma ideia brilhante em todos os aspectos, o Tandy 1000 salvou a Radio Shack da irrelevância computacional. Foi também a tábua de salvação de várias editoras que tinham apostado alto no PCjr; John Williams afirma que o Tandy 1000 literalmente salvou a Sierra ao criar um mercado para o King’s Quest, um jogo desenvolvido para o PCjr a um custo astronômico e que vinha tendo vendas ínfimas, dado o fracasso comercial da plataforma. O Tandy 1000 revelou-se tão popular que levou vários fabricantes de jogos a olhar com mais carinho para o mundo bege e chato dos clones. À medida que pegavam o bonde do MS-DOS, muitos tomaram o cuidado de aproveitar as melhorias audiovisuais do Tandy 1000. Milhares de títulos passaram a ter um balão com os dizeres “Tandy graphics support” nas caixas e na propaganda. Tendo garantido o mercado corporativo, o caminho da arquitetura Intel/Microsoft rumo à hegemonia na computação doméstica, mais longo e difícil, começou para valer com o Tandy 1000. Enquanto isso, a pobre IBM sequer tinha o crédito sobre o padrão gráfico que eles mesmos criaram. Derrota total.

Outro sinal do crescimento inexorável do binômio Intel/Microsoft na computação doméstica veio logo depois do Tandy 1000, com a chegada do primeiro jogo a fazer donos de Apples, Atari e Commodores desejarem ter um Tandy 1000, ou até mesmo algum dos seus parentes menos coloridos. Chegaremos lá — juro! — mas antes há outro desvio a fazer.

(Desta vez há um excesso de abundância de fontes. Lista rápida de periódicos: Creative Computing, Janeiro de 1983; Byte, Janeiro de 1983, Novembro de 1984 e Agosto de 1985; PC Magazine, Janeiro de 1987; New York Times, 5 de Novembro de 1982, 26 de Outubro de 1983, 5 de Janeiro de 1984, 1º de Fevereiro de 1984 e 22 de Fevereiro de 1984; Fortune, 18 de Fevereiro de 1985. O livro Computer Wars, de Charles H. Ferguson e Charles R. Morris, é um ótimo estudo a respeito das tribulações da IBM no período. Mais informações sobre os clones fabricados pela EACA podem ser encontradas no site de Terry Stewart. Material sobre as raízes da Compaq em Houston podem ser encontradas na Texas Historical Association. Outros links imprescindíveis estão espalhados ao longo deste artigo.)

Tezza e o Desafio do Ohio Scientific

Tezza Dando o Sangue pela CausaLembra do Challenger 4P do Tezza? Pois bem, nosso retrokiwi* resolveu mergulhar de cabeça nesse ornitorrinco (ops, país angloparlante da Oceania errado) para enfrentar os vários defeitos que ele tinha ao custo de sangue (não metaforicamente, como você pode ver aí ao lado), suor e lágrimas. As duas últimas, suponho, metafóricas. Clique na imagem para ler a saga completa. Não vou dar spoilers.
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Um Sinclair QL visionário

Terry “Tezza” Stewart, o neozelandês preferido de todo retrocomputeiro, está de volta com mais um vídeo sobre uma máquina obscura. (Que ele tem desde 2011 mas só agora deu tempo de fazer a resenha.) Aliás, pra lá de obscura: O ICL One-Per-Desk, vendido lá na Oceania como Computerphone. A máquina, por dentro, nada mais é que um Sinclair QL (sim, com Microdrive e tudo), acrescido de um telefone, modem e um software residente que, esse sim, é totalmente diferente do do QL. Tem até secretária eletrônica! Um remoto vislumbre daquilo que viria a ser o VoIP?

Canal do YouTube do dia: Terry Stewart (Tezza)

O neozelandês Terry Stewart, mantenedor do site Classic Computers (One New Zealanders’ View), tem um canal no YouTube em que está mostrando alguns dos seus micros – por exemplo, o Dick Smith System 80, um clone de TRS-80 Model I produzido pela EACA de Hong Kong para a Dick Smith Electronics australiana (e conhecido como Video Genie na Europa e PMC-80 nos EUA) com características bem próprias.