Bem, se você é uma pessoa interessada em retrocomputação, já deve ter notado que este computador aí de cima ganhou espaço na mídia não especializada: Matérias no IGN Brasil, no Hardware.com.br, no Techtudo, no MSN, na Vice e em outras mídias pipocaram por aí, e tornaram esse computador com nome de quinta série uma nova subcelebridade. Sim, você já deve estar sabendo que haviam 2200 unidades desse computador em um celeiro, em Massachussets (trava língua!), e que começaram a ser vendidos no eBay. Se você sabe disso, você é uma pessoa antenada.
Mas nesse artigo e em outros a respeito, pretendo afirmar com categoria: Trago verdades. Meu objetivo não é trazer aquilo que você já sabe, mas sim, informações que você não sabe. Clique aí embaixo para continuar a leitura, espero que seja fascinante.
Vamos começar com as verdades:
NABU na verdade não é o nome de um computador, mas sim o nome de uma empresa canadense, baseada na cidade de Ottawa (onde reside nosso chapa Paulo Garcia, do Vintage Is The New Old), e fundada no início dos anos 1980. Seu nome é uma sigla: Natural Access to Bi-directional Utilities. Apesar de algumas ideias inovadoras (uma delas que a faz ser lembrada até hoje), ela simplesmente não conseguiu concorrer na época com as empresas dominantes, e como várias, faliu – no caso, em 1986.
A Nabu não produziu apenas este computador simpático, grande e PESADO que vocês viram aí em cima, usando uma rede de TV a cabo. Seu primeiro produto foi o Nabu 1100, esse computador aí do lado travestido de móvel de escritório. Ele usava o então onipresente barramento S-100, tinha um Z80 como processador, e seu foco era em pequenos negócios, sendo acompanhado por uma impressora dedicada. Bem, o computador mesmo é a parte de cima do móvel, montado numa gaveta – sim, você pode puxar, deslizar pra frente e mexer nos meandros do NABU 1100. Qualquer semelhança com os racks de vários Us e gabinetes blade dos servidores atuais… Deve ser mera coincidência. E a parte de baixo? Bem, ali temos um armário mesmo. E os drives são de 8 polegadas.Há fotos dele aberto por dentro, o que eu não colocarei aqui, e vou apenas por um link. No final, eu coloco as fontes.
Outro computador que a NABU produziu foi o NABU 1200/1600. Parece discrepante (e é), mas é porque na documentação, ele aparece como o NABU 1200. Mas no material de divulgação, NABU 1600. Mais um exemplo de equipes de marketing e engenharia que não se falam… Esse computador aí do lado tem um processador Intel 8086, 512 Kb de RAM, 4 portas seriais, um drive de 720 Kb (5 1/4 polegadas, pelo visto) e um HD, que variava de 5 a 10 Mb. Ele podia usar os seguintes sistemas operacionais: CP/M-86, Xenix e um sistema baseado em Unix local que era chamado de QUNIX, mas que depois virou QNX… E que é até hoje um dos grandes sistemas operacionais do mercado de tecnologia embarcada. Note que o computador mesmo é a parte de cima, as unidades de disco (e HD) estão embaixo.
Mas vamos ao astro da noite, o NABU Personal Computer. Vocês já devem lembrar do que falamos a respeito dele, numa postagem de alguns anos atrás… Mas os leitores mais atentos notaram que tem dois drives de 5 1/4 polegadas do lado daquilo que se convencionou chamar de set top TV box (o gabinete). Sim, o Nabu pode usar armazenamento local. Muita gente afirma que ele só pode armazenar dados na rede, e isto não é verdade. E aí é que está… Como usar os drives? Quem tinha acesso a eles?
A controladora de disco era opcional, e estava disponível para as “versões de desenvolvimento” da máquina. Empresas que quisessem programar para o NABU Personal Computer tinham acesso a versões com controladoras de drive, que podiam bootar CP/M e assim desenvolver software que usasse a rede. Outra novidade é que a versão “normal” podia executar o CP/M, mas isto estava escondido do usuário final, sendo que o acesso ao CP/M estava escondido.
Aliás, na foto de baixo, note o painel traseiro desse micro:
Um DIN-5, escrito ADAPTOR (porta para conexão ao cable modem), uma porta de impressora (um DB-15, talvez), uma porta para o teclado (DIN-6, o cabo é bem grande), saída RCA (áudio e vídeo), a porta para conexão dos drives de disquete (parece uma porta Centronics – lembre-se que este é a unidade de desenvolvimento), e duas conexões coaxiais, para a TV a cabo. Note que no teclado, tem duas portas DB-9, e eu suspeito que sejam as portas de joystick. Seria o mais lógico, visto que o cabo do teclado é bem comprido e as pessoas poderiam querer jogar nos seus NABUs.
A versão final do NABU Personal Computer não tinha os drives, como vocês já sabem. Mas era necessário usar um NABU Adaptor para bootar e carregar software que vinha pela rede de TV a cabo. E este NABU Adaptor é um cable modem. Se você quiser ver o que tinha dentro, clique aqui para abrir uma foto.
E para fechar por aqui, vocês querem a configuração do NABU Personal Computer? Então vamos lá:
- Processador: Zilog Z80 a 3.58MHz.
- Memória: 64 KiB de RAM.
- Vídeo: Texas Instruments TMS9918A, com 16 KiB de VRAM para o vídeo.
- Áudio: General Instruments AY-3-8910.
- ROM: 4 ou 8 Kb.
- Portas de expansão: 4, com 30 pinos cada.
- Teclado: 66 teclas, padrão QWERTY, controladas por um microprocessador.
- Conexões: Porta paralela (DB-15), duas portas seriais RS-422 (portas Adaptor e para o teclado), saídas RCA (vídeo e áudio mono), entradas e saídas para cabo (conector tipo F).
Notou uma certa semelhança com um computador recém-quarentão? Pois é, tem mais…
Você ainda encontrava nele um TR1865CL-04 (UART Full Duplex), o microprocessador SC87253P da Motorola, o chip N8X60N da Signetics para controlar a E/S e uma ROM. Isto tudo era para fazer a comunicação entre o micro e a rede, a “nuvem” da época, que rodava em minicomputadores da Gould SEL (Systems Engineering Laboratories).
Bem, este artigo já está muito técnico, então vamos falar sobre as máquinas em New Old Stock (dá uma alegria só de ouvir isso) numa próxima postagem. Queria dar o devido crédito: Uma das fontes desse artigo é o Daves Old Computers, que tem uma página dedicada aos computadores feitos pela NABU. Se você pensou em comprar um, pode dispensar o pesado manual, ele está disponível para download nesta página, além de mais fotos e informações. Aliás, vale a pena a lida sobre a história pessoal dele com o Nabu 1200/1600: Ele chegou a ter 4 desses funcionando na empresa dele, com 16 terminais ligados, e por aí vai. Várias ferramentas que a empresa dele desenvolveu e usa até hoje, foram desenvolvidas inicialmente nesse sistema.
Ah, e caso vocês não tenham notado, se clicar nas imagens, versões maiores, em maior resolução, estarão disponíveis.
Voltamos em breve, trazendo mais verdades.
Cara… COMO ele acessava a rede de tv a cabo?
Cable modem, ué? 🙂
Essa tecnologia é bem mais antiga do que parece (tipo o lance de passar rede de dados pela de energia, coisa que as operadoras sempre usaram).
NABU É PRA JACÚ.
Brincadeiras a parte, saga bem interessante, ancioso para seguir nos próximos capítulos.
Uma questäo para quem puder debater.
Naquela época, como o post denota, havia concorrentes diversos certo?
O desenvolvimento de um aparelho / projeto novo por uma empresa em si, dependia exclusivamente de acordos fechados com os fabricantes dos componentes, ou era um DIY?
As empresas seguiam caminhos proprios a respeito do SO, era engenharia reversa ou licença de uso?
Como relatado, tëm grandes semelhanças com o MSX, poderia até ser chamado de clone se nao tivesse um OS proprietário e algumas diferenças.
Acredito que houve dezenas de empresas que criaram seus clones, mas o caminho das pedras seria interessante saber, visto que hoje em dia o acesso é bem mais fácil, claro que custoso.
Obrigado