A saga do Omega MSX Computer parte 5: Aventuras com ferro de solda.

Antes de falarmos um pouco do Omega, vamos falar da Cherry, a empresa com esse logo aí em cima. A Cherry é uma empresa alemã, mas com raízes nos EUA (e eu jurava que era toda estadunidense). Ela foi fundada em 1953 nos EUA, mas a sede foi pra Alemanha em 1979.

Ela fabrica teclados desde 1973, e é conhecida pelos seus switches Cherry MX (de Mechanical X-point), vendidos desde 1985. Vários teclados mecânicos, de vários fabricantes, usam os switches da Cherry. E a cor do switch marca o tipo do switch… E nessa contei 13 tipos de switches diferentes: lineares, táteis (tactile) ou não táteis, clicáveis (clicky) ou não clicáveis e combinações entre eles. Existem switches compatíveis com os Cherry MX, como os switches da Outemu, chineses.

E o que isso tem a ver com o Omega? Bem, ele foi pensado para usar switches Cherry MX ou compatíveis. Logo, como um entusiasta de teclados mecânicos desde antes disso virar modinha (Tá aí meu IBM Model M do lado que não me deixa mentir), fiquei muito animado com a possibilidade. Mas pelo que eu vi, teria que comprar também conjuntos de estabilizadores, não só para a barra de espaços, mas também para algumas outras teclas. O papel desses estabilizadores e garantir que, mesmo pressionando a tecla fora do seu centro, a tecla inteira irá se mexer por igual, fazendo o contato. Eu só tinha visto barras estabilizadoras para as barras de espaço. Mas também há para teclas como Backspace, Enter e Shift. E o teclado do Omega tinha espaço para eles, assim como locais para os LEDs, que ficavam embaixo dos switches, mas marcavam a atividade das teclas CODE/KANA e CAPS LOCK.

Mas então, voltemos à solda. Se você leu a postagem anterior dessa saga (link aqui), você lembra que eu comecei a soldar. E como amador na solda que sou, fiz algumas (várias) soldas horrorosas, das quais não me orgulho. E aí vem algumas constatações que eu tive, assim como com a ajuda de alguns amigos:

  1. Use um ferro de solda quente que nem o inferno. Essa é a frase que eu ouvi de alguém muito mais experiente com solda do que eu. O meu ferro de solda é um Hikari de 30W, mas depois me foi dito que eu deveria usar um ferro de solda de potência maior, tipo um de 80W. A minha percepção de novato no assunto é que mais quente, mais perigoso seria. Mas aí é que está a sacada: Se o ferro de solda tem mais potência, ele derrete a solda mais rápido, e você solda mais rápido. Acabei comprando outro ferro de solda, de maior potência, mas não usei no Omega. Ao menos ainda não.
  2. Um bom sugador de solda faz a diferença. O meu sugador é meia boca, e eu andei usando com a capinha de silicone que veio nele. No final das contas, a ponta foi pro espaço, quebrou toda e  eu tentei comprar outro bico de plástico. Não consegui. Acabei colocando uma capa nova de silicone (camisinha) que eu já tinha comprado. Mas esse sugador tem quebrado um galho. Por via das dúvidas, comprei outro, que ainda está fechado na embalagem.
  3. Aliás, ponteiras para ferro de solda são coisas bem úteis e não são lá tão caras. Claro que eu, como novato no assunto, soldei tudo com a mesma ponteira de sempre (lamentável, eu sei), mas algumas pontas mais finas podem ser melhores para soldar… Tenho uma aqui, bem fina, que ainda não usei.
  4. E aí vamos à solda em si. Eu usei solda de 0,5 mm, porque eram muitos componentes pequenos e delicados. Usei solda Best, amplamente conhecida no mercado, mas um cuidado: Essa solda contém fluxo de solda na sua preparação. Logo, ao soldar, ela solta um pouco de fluxo também. O curioso é que eu acho que usei a solda “MSX”… Heheheh! Coisa que eu aprendi depois é que o fluxo de solda é usado para preparar a área onde você vai soldar, limpando oxidações nos terminais. Só que o fluxo de solda deixa resíduos, e isto significa que a placa fica grudenta depois de muita solda aplicada. E o Omega ficou BEM grudento.
  5. E aí você se pergunta: Como lavar a placa? Álcool isopropílico e uma escova antiestática. Se não tiver isso, água corrente e sabão neutro. No meu caso, não fui eu que a lavei, mas um amigo que fez uma revisão nela pra mim. Mas lembre-se que toda placa pode ser lavada. Tire as fontes de energia (bateria inclusa), lave com sabão neutro e deixe secar à sombra. Agora, sabe por que é importante lavar? Porque os resíduos na placa podem gerar alguma capacitância maluca, e com isso a placa ficar intermitente: Ora funciona, ora não funciona. E a minha parecia que tinham esfregado fita adesiva nela.

Então, vamos ao processo. Inicialmente eu soldei todos os soquetes. A maioria eu soldei certo: Prendi o soquete com um pedaço de fita isolante, virei a placa pra baixo, soldei um pino num canto, soldei o outro pino no canto oposto… E aí fui soldando os outros. E por último, tirei a fita isolante. Passei pro próximo soquete, e por aí vai. Claro que fiz besteira, e um soquete (o U32, acho) ficou torto. Teve outro (esqueci qual é) que ficou tão torto que não fazia contato com a ilha da placa! O jeito foi dado por um amigo, que encheu a lateral com um pouco de solda, e assim fazer o contato. Foi melhor do que dessoldar o soquete todo e ressoldá-lo.

Depois fui soldando os capacitores. Comecei pelos grandes (eletrolíticos) e depois fui pros pequenos (cerâmicos). A maneira é a que é amplamente conhecida: Coloca o componente, vira de cabeça para baixo, abre as pernas deles para não cair, solda e depois corta com um alicate. Detalhe que eu comprei um bom alicate de corte para eletrônica bem depois disso, logo alguns dos cortes que eu fiz, não são algo do qual eu me orgulhe muito… Aliás, boa parte das soldas dessa placa estão aquém do que eu gostaria – mas funcionam, então está bom. O problema dos cerâmicos é identificá-los, então aquilo que eu falei da Tiggercomp na postagem passada foi de grande valia.

Nesse processo soldei também os resistores que eu tinha… Importante ver o tamanho dos resistores. Como novato no assunto, comprei alguns resistores de 1/2 W, 1 W… E eram grandes demais! Ou seja, eu soldava os resistores, mas eles ficavam esquisitos na placa. Deviam funcionar, mas ficava sobrando, e eles tinham que ficar com um lado mais alto. Acabei desistindo e comprando os resistores certos (1/4 W) depois. Pelo menos tive que trocar um ou dois só. E resistor é barato.

Soldei os cristais que eu tinha adquirido (a barrinha que é colocada para manter ele deitado… Não deu muito certo), os soquetes que eu tinha… Estava andando. Mas ainda faltava muita coisa. As barras resistivas eram difíceis de encontrar por aqui, nas medidas e quantidade de pinos que a placa do Omega pedia. Alguns conectores eram fáceis de encontrar, mas outros que a gente considerava triviais… Eram na verdade bem raros. E ainda tinha as barras de terminais, que eu descobri serem as peças mais chatas de serem soldadas, junto com os soquetes de cartucho.

Vale lembrar que a planilha que eu montei, com os códigos dos componentes e onde eles deveriam ser soldados, foram fundamentais para acertar onde soldar o quê. Era olhar pro notebook, procurar o código e qual era o componente. Mas é claro que, de tanto olhar para a placa, era difícil depois de um bom tempo encontrar onde ficava o quê. A visão e o cérebro se acostumaram àquela imagem, então ficava difícil achar. E o arquivo PDF com o esquema da placa, disponível no github, não permitia busca… Seria fantástico apertar um control-F, colocar o código e saber que naquele ponto ficava aquele par de pinos.

Mais uma foto do processo:

Aqui, o teclado já está com LED soldado – e depois descobri que soldei ao contrário… Mas coloquei a maior parte do que faltava. Detalhe para ver que algumas chaves de teclado estão tortas. A placa tem furos embaixo, que servem como guias para colocar as chaves certinho… Mas eu comprei chaves da Outemu, não as originais da Cherry. Logo, faltou pino e algumas chaves ficaram um pouco tortas. Eu deixei o TOC de lado nesse momento e soldei mesmo assim. Paciência.

Ah, falei do multímetro queimado. Então, eu comprei há algum tempo um multímetro Minipa ET-1110A. Não é um Fluke da vida, mas também não é um daqueles “multímetros de padaria” que se vende no camelô. Esse era o meu 3o multímetro “razoável”. O primeiro foi um que comprei na feira do rolo. E é lógico que não iria funcionar direito, só aproveitei as pontas de prova. O segundo, comprei numa loja. Mas tempos depois ficou meio biruta. Aí comprei esse Minipa. Mede até temperatura… Muito bom.

Aí, na dúvida de onde ligar, liguei as pontas de prova no lugar errado, fui medir algo na corrente AC e… Bem, a foto abaixo explica tudo. Pode clicar e falar da besteira que eu fiz, eu deixo.

Queimei a parte de medição de resistência do multímetro, e a parte de teste de continuidade, uma das partes mais importantes de todas. Sim, esse é o multímetro desmontado. No final das contas, comprei um novo multímetro “de padaria” mesmo (preto), e resgatei outro multímetro “de padaria”, o tradicional amarelinho – que estava no trabalho. E decidi me virar com esses mesmo. Caso eu queime mais um, o pe$o na consciência  será razoavelmente menor.

Mas eu decidi deixar pra colocar os CIs no final, e vários eu já tinha conseguido por aqui. Mas chegou um impasse: Está faltando componente, não estou achando eles no Brasil, e o caminho é comprar no exterior. UTSource, AliExpress, Mouser… Como farei? Isso eu explico na próxima parte da saga. Até lá!

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.

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