História e Glória de um Paxon PCT-50 (MSX 1).

Já cantei em verso e prosa que a minha meta na minha coleção é ter pelo menos um MSX de cada fabricante. Me baseio na listagem do MSX Datapack (que você pode consultar aqui) e essa é a história de mais um passo meu rumo ao meu objetivo.

Tudo começou quando em outubro de 2017, um amigo (sempre tem que ser um amigo pra te colocar na roubada) me manda um link no Yahoo!Auctions de um General Paxon PCT-50. Sim, esse trambolho aí em cima. Ele era vermelho, só tinha o micro (e TV, claro), sem teclado ou joysticks. Não vou por o link aqui porque não está mais disponível. Mas ao longo do post vocês verão fotos do dito cujo – além da foto aí de cima.

A compra

É bem verdade que minha conta no proxy de compras que eu uso (Shopping Mall Japan) estava pegando poeira. Nessa subida do dólar, aliado à inflação de preços relacionados a MSX no Japão (japonês abriu o olho, pode ganhar dinheiro com o seu “lixo”)… Eu parei. Mas ao contrário de alguns amigos, eu parei mesmo. Mas eis que teu tenho um bom motivo para voltar à ativa.

Fui lá, tirei a poeira da conta, fiz uma faxina na lista de coisas interessantes (tinha muitos itens que eu desejava mas que estava fora do meu alcance), cadastrei e agendei um sniper bid. Um sniper bid consiste em um serviço oferecido por alguns proxies (ou serviços próprios para isso) que eles dão o lance para você quando o leilão está fechando. Vez por outra não tenho tempo para dar o lance, ou me falta sangue frio para tentar o lance nos últimos segundos.

E resolvi dar um único tiro de 60 mil ienes, ou R$ 2.004,93. Esse proxy trabalha com um depósito inicial, que determina até quanto você pode dar lances. US$ 100 depositados significam lances de até 60.000 ienes. Então resolvi tentar esse único tiro.

O leilão fechou 6 dias depois, e eu ganhei: 42500 ienes, ou R$ 1.419,46. Os amigos festejaram, recebi os votos de que não seja tributado, que o frete seja baixo… Um deles contactou a empresa e solicitou inclusive para caprichar na embalagem, para o micro chegar intacto.

Quanto ao frete, eu decidi enviar por via marítima (SEA). Era o mais lento, mas o mais barato. O frete me custaria uns 8000 ienes (R$ 267,37), mas levaria 3 meses pra chegar. Ok, não estou com pressa. Se fosse por via aérea (SAL), minha estimativa era que custaria 22050 ienes (R$ 736,95). Por EMS… 38200 ienes (R$ 1096,23). No chute, claro, eu estimei 15 kg pro bichinho, no olhômetro. Sem problema, vem por SEA. Só que não foi bem assim… Em tempo, as estimativas podem ser feitas nesse site do Japan Post. Sim, tem em português.

Nisso, eu tinha recebido um cartão novo do banco. Categoria nova, limite maior e anuidade menor (viva). E soma mais pontos no programa de fidelidade. Fui lá pagar o micro com ele, mas o banco bloqueou por segurança. Assim, de cara. Bem, desbloqueei o dito cujo, cadastrei no Paypal e paguei o micro com esse cartão novo, em outubro.

A ideia era fazer pontos no programa, e depois transferir tudo desse programa e o do outro cartão (que é em outro banco) para um programa só, e aí trocar em uma passagem de avião, ou o aluguel do carro pra irmos pro encontro de Jaú, essas coisas. Pelo menos algo eu ganharia nessa história toda – além do micro.

O frete

Tive a sugestão de mandar por EMS e declarar um valor baixo. Só que o EMS é o frete mais rápido, mais caro e quase sempre tributado. Via marítima, a encomenda entra pelo Porto de Santos. Via aérea (SAL), acima de 2 kg entra pelo Rio de Janeiro. EMS… São Paulo também.

Chega novembro e o micro chega no depósito da empresa. Só que aconteceu o que eu temia, não é possível enviar por SEA ou SAL, só por EMS. Motivo: O volume do item. Existe um limite de perímetro da caixa se você remete por SAL ou SEA, que é 2 metros. Ou seja, mede-se toda a caixa fechada, e ela tem que ter até 2 metros. E esta ultrapassava o limite por pouco… Mas ultrapassava. Por EMS o limite é de 3 metros. Isto não é novidade, os Correios no mundo todo aplicam limites de perímetro de caixas também. Só que isto não é lá muito comum acontecer, ninguém importa um trambolho desses toda hora.

Bem, fui no Generation MSX ver o peso dele. 14 kg. O EMS me custaria 36100 ienes, ou R$ 1206,53. Senta e chora. Pensei em declarar como uma TV CRT de 14″ antiga, colocando um valor bem baixo, tipo uns US$ 50. Na conversa com os sábios, eles me alertaram que EMS quase sempre é tributado, não tem muito como fugir. Mas eu poderia tentar esse subterfúgio. Já que eu seria tributado, que fosse menos. Declarei como TV CRT, mas não disse que era usado (OLD), para não levantar suspeitas. E vamos que vamos.

Pedi o envio por EMS, mesmo contrariado, e aí veio a conta. Melhor não falar em valores exatos para não chocar olhos mais sensíveis… Paguei o frete no cartão de crédito. E acabou caindo na fatura do mês seguinte. Ou seja, em um mês paguei o micro, e no mês seguinte, paguei o frete. Menos pior. E ele foi imediatamente despachado.

Dando uma pausa nessa epopéia, queria dizer que a camaradagem, a amizade entre fudebas é algo que eu realmente fico muito feliz. O Werner Kai, esse brasileiro com cara de japonês, nome de alemão e alma de turco me ofereceu por um preço bem bacana um teclado e 2 joysticks vermelhos, que fazem par com o meu Paxon. Ou seja, fechei o conjunto de uma maneira bem mais fácil do que eu pensava. Nas palavras dele: “Vai demorar eu comprar um Paxon para mim. Então é melhor que alguém aqui no Brasil tenha todo o conjunto do que tenhamos dois meios conjuntos“.

A tributação

Voltando… O micro chegou no dia 14 de novembro no Brasil. Um mês depois do anúncio para mim da sua existência. Entrou por São Paulo, e foi pra Receita Federal. Hoje em dia, os Correios tem o Portal do Importador, onde é possível acertar tudo sem ter que passar pela agência. E o melhor, podendo pagar o tributo com cartão de crédito.

O telegrama de aviso para pagar o tributo chegou, mas sem o valor. Isso era lá para dia 23 de novembro. Bem, lá vou eu, no dia 24 de novembro ver a situação no portal. Emiti a DIT (documento de recolhimento de tributos), valor de R$ 256,03. Só que não consigo pagar. #comofaz? No site tem isso aqui: A encomenda está sob fiscalização do(s) órgao(s) anuente(s): RFB que controla(m) a permissão de entrada no país do produto que está sendo importado de acordo com as regras do Regime de Tributação Simplificado.

Entre ligações e perguntas, finalmente entendi o que aconteceu. Anotem isso nos seus caderninhos, povo: O Paxon entrou no sistema no dia 20. Isto significa que a RF liberou-o para pagar o tributo e ser entregue. Acontece que no dia 22 (ou 23) a RF pegou ele de volta pra nova análise. E eu recebi a correspondência dos Correios no dia 24. Entrei e já encontrei ele nesse estado. Agora, nem o documento estava disponível. Tudo leva a crer que a tributação seria alterada, e o valor, majorado. E sim, eles podem fazer isso. Gostemos ou não, chiemos ou não, xinguemos ou não, eles podem fazer isso. A lei permite. Não gostamos, né? Aí, só mudando a lei.

Claro que se eu soubesse disso, eu teria entrado imediatamente na semana anterior, teria pago o tributo e ele teria sido rapidamente entregue. Mas eu não sabia. Logo, agora eu tinha que esperar e segundo eles no máximo no dia 4 de dezembro, me dariam um retorno definitivo, para que ele fosse liberado, devolvido, tributado, quebrado… Essas coisas. Na atualização, no sistema, apareceu “encomenda com ocorrência“. E abaixo, “OUTROS MOTIVOS RETENÇÃO/APREENSÃO“. Ligo preocupado para os Correios para saber a respeito dele (já tinha protocolado uma queixa via Internet), e fiquei sabendo disso tudo. Tentei ficar calmo. Afinal, pra afogado, jacaré é tronco.

Logo, fica mais uma dica procês: Na próxima importação que você ver que foi tributada, rapidamente entre no Portal do Importador e pague logo o tributo. Pode ser que a RF resolva pegar o item de volta “para análise” e aí…

Meu receio era pedirem os documentos de compra. Eu poderia alegar que ganhei o item, que não tenho nenhum documento de compra, que o máximo que tenho é a fatura do frete. Agora, se eles resolverem aumentar a tributação por conta do preço FOB (item + frete), paciência.

No final das contas, nesse vai e vem, somente tive atualizações no dia 14 de dezembro. A Receita Federal arbitrou um valor em cima dele. Como disse, eram R$ 405,16. Eles arbitraram mais R$ 1169,15 (US$ 352,23, ou 39824 ienes) de diferença. Ou seja, pra eles, o total fechou em 53625 ienes. Eu paguei 42500 ienes pelo item, e mais um tanto em frete (perto de 32000 ienes). A alíquota (imposto de importação) ficou em R$ 945,62. Isso, sem contar a taxa de conversão da moeda (sempre favorável ao banco), o IOF (6,38%)…

Pensei em questionar, abrir reclamação… Mas aí lembrei que o valor que paguei de imposto corresponde a 34,7% do valor que eu paguei, e não 60%. Eu poderia tentar dizer que eu ganhei o micro e tive que pagar esse frete. Mas aí eu estaria mentindo, e acho melhor não arriscar. Os documentos comprovam que eu paguei pelo micro e pelo frete (preço FOB). Logo, se eu questionasse, estaria dando uma rajada de metralhadora no pé. O tributo ficou abaixo do valor exato.

Claro que doeu no orçamento pagar tudo isso. Claro que não gostei de pagar imposto. Mas tentar dar “jeitinho” é pior. E não é só por causa do risco, é porque é errado. E tem muita gente querendo transformar a exceção em regra. E aí, “vai que cola”, e por aí vai.

E antes que alguém fale sobre importação, eu gostaria de lembrar a dura realidade, que está nesse documento aqui. Aqui temos o que pode ser importado ou não. E pelo que vi, sob condições especiais podem ser importados “Aparelhos receptores de radiodifusão, como rádios toca-fitas de bolso e outros“. Só que ele não é um rádio, é no máximo uma TV. E como sempre lembro aos incautos, videogames e microcomputadores usados não podem ser importados oficialmente. Nós somos beneficiados pela Receita Federal fazer vistas grossas e deixar passar. Já tive encomendas que foram abertas e liberadas sem tributação (foi um Sony HB-F700, que já foi vendido). Mas vale lembrar que a Receita deixa a gente comprar. Se eles seguirem a estrita escrita da lei, nós estávamos com problemas sérios.

Mas, voltando… Finalmente paguei o tributo pelo próprio site no cartão de crédito. Pelo menos esse valor só bateu na fatura do mês seguinte, e no final das contas, parcelei a compra desse micro em 3 meses. Tudo desse micro eu paguei usando um único cartão, com o objetivo de juntar um número mínimo de pontos pra jogar pra outro programa de pontos mais rentável. Estou quase lá.

É… Cada um com o seu próprio Rubicão, já dizia Júlio Cesar… Ou não. Pedi aos porteiros do condomínio pra entregar o Paxon somente a mim, se bem que eu já tinha avisado à madame da compra. Ela não precisa saber de valores, como que ele custou no total mais caro do que o meu notebook novo.

O Paxon finalmente chegou em 21 de dezembro, a tempo para o Natal. Coloquei a caixa dele junto à Árvore de Natal… E minha esposa já veio perguntar “O que é aquele baú do lado da árvore de Natal?” “Se liga na parada não, muié“, foi o que eu respondi, me sentindo o tal.

O micro

Bem, ele é um MSX 1 com 16 Kb de RAM. E ele é uma TV CRT. Como TV, ele sintoniza canais normalmente. E tem uma tecla no seletor de canais, chamada PC. Ao pressioná-la, um MSX 1 dá boot. A imagem é linda. O melhor que você pode ter com um RGB numa TV CRT. Linda linda linda show show show. Tem uma abertura na frente, onde você pode ligar o teclado. Acima, tem a entrada dos dois joysticks. O slot único é vertical, embaixo do botão que é liga-desliga (pressão) e controle de volume (girando para os lados). Na traseira, conector para impressora e para antena por RF. Você pode usá-lo como TV também. Ainda pensei em expandir a memória dele, mas confesso, a única coisa que faz falta é uma entrada RCA, pra usar ele de monitor. Mas talvez eu compre um adaptador RCA -> RF para ele. Assim posso usá-lo também como monitor.

O teclado

E você acha que acabou?

Ainda tem a novela do teclado. Lembram que eu falei lá em cima que o Werner iria me vender um teclado e dois joysticks? Pois é, depois de um bom tempo para ele localizar os itens na coleção (hehehe), ele achou. Paguei e ele me mandou os itens.

Fui todo contente, espetei no micro e… O teclado não funciona direito. Quer dizer, tem teclas que funcionam e outras não. Os joysticks, mesma coisa. Bem, vamos abrir para ver como está.

Sim, tudo isso é ferrugem. Corrosão. Maresia. E o pior, o teclado TODO é montado dessa forma, com as as torres onde as teclas encaixam estando presas numa peça metálica. E essa peça está presa no PCB do teclado. As torres estão soldadas lá.

Apliquei álcool isopropílico, limpa-contatos… Não deu muito efeito. Bem, vamos limpar as teclas, que estão muito, mas muito encardidas. E fui eu fazer um retrobright. Erro meu.

As fotos do processo criminoso estão no Flickr. Como vocês podem ver na foto acima, as teclas mancharam. Meu erro foi misturar teclas que são de cores diferentes no mesmo saco com peróxido de hidrogênio. Conclusão: Eu tenho o único Paxon do mundo que tem um teclado que parece uma galinha carijó.

Bateu uma tristeza, mas depois disse: “Que se dane“, e vamos em frente. Espero honestamente que o problema de teclas falhando (e é um pouco aleatório) seja no cabo. Foi uma coisa que o Daniel Ravazzi levantou, numa conversa que tivemos. Mas não tive tempo de fazer teste de continuidade no cabo do teclado (sem contar que é chato para acessar o conector que vai no teclado). Em breve (espero) teremos novidades.

O álbum de fotos do Paxon está aqui, tem 17 fotos (por enquanto). Quase comprei outro teclado de Paxon no Yahoo!Auctions outro dia. Era abrir e trocar o miolo. Mas eu perdi a chance. Whatever, vamos tentar restaurar esse teclado mesmo. Será um ótimo MSX para as crianças brincarem.

Infelizmente, ele não está no lugar em que eu queria colocar, que é em cima de uma mesa: Está no chão, junto com mais dois MSXs. Mas espero que no futuro tenha notícias melhores. Quanto aos joysticks, são ambos fechados por encaixe, sem parafusos. Também não estão bons, deve ser o mesmo problema.

Aqui vai o relato que eu prometi a alguns faz tempo. Espero que gostem – ou não.

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.

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    1. Agradeço aos meus amigos por me ajudarem nessa coleção… E nem tanto por me meterem na roubada. Mas agora já foi. 😛

      O Frael foi um golpe de sorte no eBay italiano. O Dragon seria um milagre, mas minha fé não anda tão profunda assim. O SBX… Só se aparecer do nada. Então eu tô de boa. Depois do Hitachi MB-H50, talvez eu tenha um ou outro MSX q eu queira comprar. Que nem um amigo meu, resistindo a um doce depois do almoço… Juan, você conhece alguém assim? 😀

      1. Nem imagino de quem você está falando. 😛 Quanto ao Dragon…Homem de Pô Café