Então, se você leu a parte 1, deve lembrar que eu estava começando a me tornar mais amigável ao ferro de solda, conforme o Cesar mencionou na Gazeta de Retrópolis, a Retrobits. Então, pensei: E se eu montasse um Omega?
Sim, esta seria uma senhora aventura. A lista de componentes é imensa. E a lista era para comprar a maior parte dos itens na Mouser, um grande fornecedora de componentes eletrônicos dos EUA… O que é um problema.
A Mouser tinha quase tudo que eu precisaria. Quase, pois alguns chips (como o Yamaha V9958) teriam que ser providenciados por outras vias (eBay, por exemplo).
O pior problema seria soldar isso tudo. Seria uma tarefa longa a ser feita, e uma exigência de habilidade que eu não tinha. Ou eu achava que não tinha.
Como disse antes, eu já estava ganhando alguma confiança, soldando e removendo componentes eletrônicos de algumas placas recolhidas em sucatas. Tive sucesso trocando os capacitores da placa analógica do Daewoo (me senti o próprio Neal “Hello Cave Dwellers“, do canal RMC), então resolvi dar um salto que seria talvez muito grande… Mas eu não tinha pressa. Mas esta não era uma tarefa que seria melhor executada se não fosse sozinha.
Na comunidade MSXzeira – como em quase todas as comunidades – existem alguns poucos que põem a mão na massa e muitos que querem ficar só olhando, dando pitacos e querendo ver onde tudo aquilo vai dar. Normal, é assim em todas as comunidades. Mas isto gera uma perturbação extra: Muita gente dando pitaco, pouca gente fazendo… Seria um ruído que tornaria o processo muito mais lento. Além disso, tem gente que iria aparecer no grupo e ficar gritando: Eu quero 3 Omega, alguém monta pra mim? Eu pago bem! Acredite, tem gente na comunidade que tem mais dinheiro que juízo, e eu sei que ouviria isto dessa pessoa. Não, muito obrigado, mal consigo montar o meu…
Mas ao mesmo tempo, haviam algumas pessoas realmente interessadas em montar o Omega, pois essa conversa vez por outra aparecia nos grupos de WhatsApp e Telegram (que substituíram a venerável MSXBR-L, na prática, apesar da lista continuar ativa, mas com tráfego praticamente marginal).
Então, alguns MSXzeiros decidiram se reunir em um grupo pequeno de pessoas interessadas em montar o Omega. E eu estava nesse grupo de interessados. Formamos um grupo inicial de cinco pessoas (sim, cinco apenas) no Telegram, e fomos à luta.
Hoje o grupo é um pouco maior: Há um total de 14 pessoas participando. São os 5 fudebas originais, mais alguns que se interessaram para a segunda leva, além de algumas pessoas que conhecem bem o hardware e o software de MSX. Montamos o grupo em janeiro de 2022, e o primeiro passo foi fazer a cotação da produção das placas. Foi escolhida a JLCPCB, e feita a cotação para a produção inicial de 5 placas. Antes que alguém pergunte porque não fizemos com a PCBWaaaaaaay, foi porque eles cobram caro. Também, né, patrocinando Jan Beta, Perifractic, Noel Llopis e Action Retro… Esse dinheiro tem que sair de algum lugar!
O custo ficou em US$ 18 cada conjunto, que são compostos pela placa-mãe e a placa do teclado. Ainda tinha o frete para cada um, já que os pedidos se concentrariam em um dos integrantes, e ele enviaria as placas para cada um depois. O custo total ficou em uns R$ 140 por pessoa. Em meados de fevereiro, as placas chegaram. A foto está aí embaixo:
Antes de receber as placas, eu já tinha começado a encomendar os componentes. Itens foram comprados em diferentes lojas aqui no Brasil (tive que variar, teve jeito não) e alguns, na AliExpress. Mas, antes de começar a soldar tudo, vamos a alguns comentários:
- Fiz um levantamento de todos os componentes necessários, e vários deles eu encontrei aqui no Brasil, em lojas distintas. Aliás, eu vou expressar minha opinião a respeito de algumas lojas nessa série.
- As planilhas com a maior parte dos locais onde adquiri os componentes estará disponível em breve para que vocês possam se guiar também – caso queiram.
- Usei solda fina, 0,5 mm, se não me engano. E se você é um soldador ocasional como eu, vou dizer para vocês que devo ter consumido no total pouco mais da metade do rolo de solda.
- Algumas das soldas disponíveis no mercado já trazem fluxo de solda dentro, o que ajuda no processo, mas no meu caso acabou deixando a placa bem… Grudenta. E isto pode ser um problema: Ela está grudenta justamente porque há restos de fluxo de solda na sua superfície. E estes restos podem gerar uma capacitância inesperada, tornando a placa intermitente. Para exemplificar, o Rogério Belarmino me contou que a Tecnobytes teve alguns cartuchos que retornaram. Os proprietários alegaram que os cartuchos estavam intermitentes no funcionamento. Depois de examinar cuidadosamente o cartucho e descartar componentes defeituosos, soldas frias e outras coisas, Eles notaram que aquela placa não tinha sido lavada depois de montada – sim, eles lavam as placas antes de passar pelos testes finais e enviar. Então, eles desmontaram o cartucho, lavaram – com água, sabão neutro e depois álcool isopropílico. E o cartucho voltou a funcionar normalmente.
- Como você pode imaginar, todo este processo foi um grande aprendizado para mim: Desde como segurar o ferro de solda (às vezes como uma caneta, às vezes como um hashi – comida japonesa) até o uso de itens que ajudam, como salva-chip, fita dessoldadora, fluxo de solda e álcool isopropílico. Quer dizer, ainda preciso aprender muita coisa, mas foi um processo de aprendizado muito útil.
Mas então… E a solda? Fica pro próximo post. Mas deixo vocês com mais uma foto da placa.
Essa séria tá ficando muito boa!
Já pensando em montar dois aqui (e dizer para a
esposa que são para as duas filhas aprenderem a programar).
É uma boa desculpa… Só resta saber se as meninas terão acesso aos computadores! 😀
(Ver também: bola de boliche que o Homer comprou pra Marge)
Quando estiver soldando, lembre-se da física, em especial dos fenômenos de transferência, no caso de calor. Ambos os metais (componente e placa) tem que receber calor para que a solda flua para ambos eo contato fique bom. O fluxo de solda é fundamental nesse processo para evitar que o calor do ferro oxide a liga de chumbo-estanho, deixando a junção opaca. E para que o fluxo nao evapore prematuramente evite encostar o “arame” de solda diretamente na ponta do ferro (muito embora às uma encostadinha de rapida no inicio da soldagem possa ajudar pois a solda derretida tem area de contato maior e transfere melhor o calor). Nunca use solda como se fosse cola, ou seja nada de formar uma bolinha na ponta do ferro de solda pra aplicar nos terminais porque a solda pode ficar fria e oxidada, ja que não dá tempo de transferir calor suficiente pros metais antes do fluxo evaporar.
No mais, como tudo nessa vida, solda é pratica. Pratique, pratique, pratique, e freqüência que as soldas ficam ruins vai diminuindo até o ponto em que você não erra mais, a não ser se for de propósito, 😉
Ahh e lhe desejo sucesso!! Fazendo com calma e cuidado você chega la!
Que grupo de montadores do Omega é esse ? Tô começando a montar o meu.
A primeira regra do grupo é não falar do grupo! 😀