Nesses tempos de pandemia, caí em dois artigos atrasados da minha lista de leitura: A great price for a cheap BASIC – but with an extremely expensive legacy, de Liam Proven e The 68000 Wars, Part 6: The Unraveling, de Jimmy Maher.
O texto de Liam é, para ser bem honesto com o amigo leitor, confuso; na ânsia de culpar a prática da Commodore de usar o mesmíssimo BASIC do PET em toda a sua linha de 8 bits pra não precisar renegociar o contrato com a Microsoft pelo virtual desaparecimento do BASIC como linguagem de programação dominante na era dos 16 bits – como era na era dos 8 bits e, antes, na era dos minicomputadores – coloca nas costas da empresa de Tramiel a responsabilidade pela transformação do C/C++ na linguagem padrão para programação no mundo moderno. Até sugeri que comentássemos neste Retrocomputaria o texto, mas a cada vez que o relia achava mais e mais confuso.
Um dia finalmente li o texto do Jimmy Maher, e aí entendi porque tinha sugerido o texto do Liam: os dois falam fundamentalmente da mesma coisa, ou seja, das (in)decisões da Commodore.
Liam: “A CBM não tinha, na verdade, ideia do que estava fazendo. Vendeu um monte de PET’s, depois mais um monte de VIC-20’s, e depois literalmente milhões de C64, sem nunca melhorar o software embutido para se alinhar ao hardware.”
Ainda Liam: “(…)mostrou que a CBM aparentemente ainda não tinha pistas do porquê do C64 ser um enorme sucesso, ou quem o comprava, ou por quê.”
Maher, citando: “Os altos executivos da Commodore, na verdade, não entendem por que tanta gente ama o Amiga.”
A Commodore é um tema recorrente neste podcast (episódios 12, 36, 40, 80, 85 e mais e mais e mais) pela importância dela no cenário retro global; talvez, e por causa disso, volta e meia esquecemos de uma realidade simples: a Commodore nunca teve ideia do que fazia no mercado de computadores.
Vamos lembrar que a CBM sempre foi uma empresa reativa: comprou a MOS (e alguns anos depois destruiu o mercado de 8 bits na América do Norte) como reação à banda que levou da Texas Instruments, entrou no mercado de computadores como reação à queda de lucros do mercado de calculadoras, comprou a Amiga como reação à saída de Tramiel e ao beco sem saída que se tornou o C64. Uma empresa que ficou quase 20 anos dando as cartas no mercado de microcomputadores mas que se portava da mesma maneira que um observador que achasse um jabuti no topo de uma árvore: sem saber como parou lá.
No final das contas, a Commodore talvez seja o maior exemplo do que, usando um título de um famoso livro de Robert X. Cringely, um império acidental.
Muito interessante ponto de vista (Queria isso no ViTNO!).
Acho que voce esta’ certo, mas a razao da C= se comportar assim e ao mesmo tempo ter o sucesso que teve tem muito a ver com a fantastica equipe de engenheiros fazendo a coisa certa “apesar” da direcao da empresa fazer muita besteira.
O livro “Commodore: A Company on the Edge” do proprio Meher mostra bem essa dicotomia: o Chuck Peddle fazendo certo e o Tremel fazendo cag…. besteira 🙂