A Yamaha é uma marca conhecida mundialmente pelo seu virtuosismo sonoro: Pianos, teclados, fones de ouvido, clarinetes, violões, chips de áudio, MSXs… Os micros feitos pela Nippon Gakki são conhecidos por terem uma incrível capacidade de som, e poderem ter ligados a ele teclados musicais, cartuchos com software para controle, MIDI…
E apesar disso, os MSXs da Yamaha tem uma saída de imagem muito ruim, cheia de ruídos e uma imagem que deixa muito a desejar. Até agora.
O RBSC (Russian Bear Service Crew) é um grupo de usuários MSX da Rússia que tem focado em soluções de hardware muito interessantes para o padrão MSX. Seu repositório no Github contém vários projetos, como:
- Uma extensão flexível para os slots do MSX, muito útil se você resolve
cometer o sacrilégiofazer um casemod e montar seu MSX num gabinete padrão IBM-PC; - A Carnivore (1 e 2), que é um cartucho multifuncional para MSX, com 1 Mb de Mapper, 720 Kb de MegaRAM, uma controladora IDE com slot Compact Flash, 8 Mb de FlashROM, emulação de PSG, SCC, FM… Entre outros trecos;
- Um cartucho com controladora de drive e IDE embutidas;
Mas o forte deles são projetos para os MSXs da Yamaha. E por que da Yamaha? Bem… Talvez vocês lembrem do nosso episódio 33 (parte A e parte B), sobre os micros da Cortina de Ferro (em particular, um dos meus favoritos de todos os tempos). E lá, falamos que a Yamaha vendeu muitos MSXs para a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (aquela, da música dos Beatles), para a informatização de escolas. Logo, apesar da quase onipresença de clones do ZX-Spectrum por aquelas bandas, os MSXs tiveram uma certa presença por lá. E o RBSC lançou alguns projetos para os MSXs da Yamaha, a saber:
- Um emulador para o chip YM2148, que é uma controladora MIDI, usada nos módulos SFG-01 e SFG-05, usado nos MSXs da Yamaha. Este projeto evoluiu para o próximo, que é…
- … Um cartucho dos módulos SFG-01/05, e posteriormente, um clone dos mesmos. Para quem não sabe, estes módulos são uma expansão FM com interface MIDI. Ele contém um conector (proprietário) para ligar um teclado musical (YK-01, YK-10 ou YK-20), MIDI-in e MIDI-out, e saída de som estéreo. O som é gerado usando um chip YM2151 (OPM), fora um DAC estéreo (YM3012) e um YM2148 (MIDI). A diferença entre os SFG-01 e 05 é que a ROM do primeiro salva dados em fitas cassete e o segundo, em disquetes. Mas por que cartuchos e clones? Os cartuchos seguem a pinagem de 50 pinos padrão do MSX. Os módulos seguem uma pinagem proprietária, de 60 pinos, somente encontrada nos MSXs da Yamaha.
- Placas para uso interno nos MSXs da Yamaha, como o YIS-805 (uma placa para acrescentar o FM dentro do micro), um adaptador para o slot traseiro dos Yamaha CX5M… E o que finalmente nos interessa:
- Uma nova placa analógica para os Yamaha MSX 2.
E o que essa placa tem de especial? Bem, como eu disse lá no início desse texto todo, a saída de vídeo dos Yamaha não é boa. E o projeto dos russos é basicamente criar uma nova placa analógica, na mesma medida exata da analógica original, para substituir a antiga. E o que ela tem?
- Saída RGB a 15 Khz. Joga num circuito com LM1881 ou numa GBS+ e liga no VGA de um monitor LG M1721A, ou outro que aceite VGA com sincronismo a 15 Khz.
- Saída S-Vídeo, no lugar da saída RF. Convenhamos, ninguém usa RF hoje em dia.
- Saída A/V, nos mesmos conectores. Na verdade, os conectores A/V são parte da blindagem eletromagnética da placa analógica, então eles não serão trocados.
- Ajustes, como o sistema de cor usado (NTSC ou PAL) e trimpots para ajuste do sincronismo composto e das intensidades de cor (R, G e B). Na placa da foto acima, os pinos para a seleção do sistema de cor não estão instalados, logo é NTSC mesmo.
Bacana, não? Sim, muito! Então, onde eu compro? Como eu instalo?
Compra?
Quanto a comprar, há uma notícia boa e uma notícia ruim. A ruim é que os russos não vendem mais a placa. Eles chegaram a produzir um pequeno lote, mas já venderam tudo e não pretendem produzir mais. A notícia boa é que todos os projetos deles são abertos. O que significa que você pode ir lá no Github e baixar todos os projetos deles: Os desenhos das placas (os gerbers), a documentação, tudo. Ok, eu sei, não é exatamente trivial para nós, meros mortais. Mas se alguém quiser se aventurar a produzir a placa (e alguns se aventuraram), ficou bem mais fácil.
E a instalação?
Antes de continuar, vale dizer que alguns dos componentes são um pouco raros de achar. Claro, eu perturbei um bocado o cidadão que produziu (obrigado, Maluf!) e ele conseguiu me vender UMA placa (ele produziu 3). Só que eu tenho 2 Yamaha, a saber, um YIS-604/128 e um AX-350. Ambos são MSX 2, sendo que o primeiro foi vendido no mercado japonês. O segundo foi para o mercado árabe. Então, a placa chegou e decidimos encarar a aventura de montar a placa dentro do meu Yamaha “japonês” (sim, eu sei que ambos são japoneses, isto é apenas para separar os micros).
Basicamente você terá que abrir o seu Yamaha, enfrentando todos os encaixes que o gabinete tiver (coisa que eu realmente não gosto nos Yamaha), e remover a caixa com a placa analógica. Ela fica presa por 4 parafusos e está conectada ao micro por um conector do tipo flat cable. Aliás, um parênteses: Os Yamaha são bem modulares. Vários itens estão em placas conectadas à placa-mãe: Z80 numa, VRAM em outra… Bem curioso.
Daí, é necessário remover a placa analógica original, para montar a nova. E aí, há duas maneiras:
- Use um ferro de solda de maior potência (tipo 150 W) para aquecer a caixa metálica onde a analógica está inserida, para poder removê-la inteira
- Destrua a analógica original, usando um alicate de corte. E este é um salto de fé, porque se a nova placa não funcionar, seu MSX não terá mais imagem (meda)
É claro que apelamos para a 2a, já que o meu ferro de solda mal chega a 30 W. Destruição de fenolite total, sem dó nem piedade. Encaixamos a placa nova dentro da caixa (e é impressionante como a placa dos russos encaixa perfeitamente bem), soldamos os cantos da placa na caixa metálica (para fins de aterramento), soldamos (por cima) os conectores de áudio e vídeo. Feito isto, montamos de volta no micro, ligamos os cabos e… As imagens abaixo falam por si mesmas.
Não testei o micro no RGB , mas fiz testes no vídeo composto e no S-Vídeo. O conector S-Vídeo é um pouco duro de encaixar e fica bem profundo (afinal, era o RF). A imagem ficou bem melhor no S-Vídeo, ouso dizer que é uma das melhores imagens de um MSX que eu já vi. E apesar dos artefatos no vídeo composto, digo que dá para usar com 80 colunas. Mas no S-Vídeo a imagem fica limpíssima.
Então, se você tem um Yamaha (MSX 1 ou 2), vou te dizer que vale MUITO a pena usar essa placa. Agora os Yamaha tem uma imagem que é digna do micro que é.
PS: Eles fizeram também uma nova placa analógica para os Yamaha YIS-805, o último MSX 2 feito pela Yamaha, com teclado separado do gabinete. Esse projeto foi lançado no final de 2019.
PS 2: Nem todos os projetos estão no Github da RBSC. Vários deles estão também no Github do Alexey Podrezov, (que também é parte do grupo) como conversor de RGB para vídeo composto e S-Vídeo, expansão de memória, guia de transformação do YIS-805 para MSX 2+… E por aí vai.
PS 3: Feliz Retro Ano Novo pra todos vocês.
Muito bacana o projeto. Gostei do repositório do RBSC, tem muita coisa boa lá!
Acho interessante este projeto de adaptador de vídeo componente para os vdps dos msx1: https://hackaday.io/project/13056-tms9929a-rgb-and-component-adapter
Muito bom, né? Os caras são bons, e o mais legal é que a placa analógica deles encaixa perfeitamente. É um trabalho de engenharia digno de aplausos.
Essa do VDP de MSX 1 eu n vi, vou ver.