E encontraram o australopithecus! Só que do Windows 11.

Essa a gente viu no Xuiíter, mas encontramos com mais detalhes no The Register. Então lá vai: Um cidadão, autodenominado arqueólogo de códigos-fonte, encontrou e fez o upload do 86-DOS versão 0.1-C, que é talvez a primeira versão (instável, claro) do MS-DOS. E aí, vocês sabem, IBM-PC, Microsoft e o resto… Está aí embaixo.

Para quem não lembra (se comprou o meu livro sobre MSX-DOS e leu, deve saber dessa história) , o MS-DOS nasceu inicialmente como 86-DOS, feito por uma empresa chamada Seattle Computer Products, ou SCP. A Microsoft licenciou o 86-DOS (feito por Tim Paterson, o mesmo criador do MSX-DOS 1 – isso está no livro!), mudou o nome, deu uma melhorada… E licenciou novamente para a IBM e para o IBM 5150, o IBM-PC.

Mas então, como foi encontrado? Bem, Gene Buckle, um entusiasta de simuladores de voo, o encontrou. Se bem que já falamos do trabalho desse cidadão. Lembra que falamos do FreeGEM no episódio 116? Então, ele hospeda essa que é a interface gráfica original do DR-DOS, da Digital Research, que hoje é licenciado segundo uma licença de código aberto, pela Caldera, desde 1999. Ele disse ao The Register:

Há alguns anos, recebi uma enorme coleção [de disquetes] de uma pessoa da minha cidade. Só recentemente consegui parar e fazer um trabalho sério de criação de imagens de disco.

Detalhe: São 427 disquetes de OITO POLEGADAS. Este disco estava entre vários discos do 86-DOS e do MS-DOS 2.0. Mas ele não encontrou apenas a versão 0.1, mas também outras:

Achei legal encontrar a versão 0.34… Não tinha ideia de que a 0.1 apareceria mais tarde naquele dia.

E pode haver mais joias a serem encontradas:

Tenho mais [disquetes] originais de 8″ para carregar, incluindo o que eu acho que é um conjunto completo de produtos da MicroPro (WordStar, SpellStar, etc). Muitos discos do sistema operacional CompuPro também [estão entre eles].

Ele também digitalizou muita documentação e subiu tudo pro Internet Archive. Agora, o problema mesmo são os discos de 5 1/4 polegadas:

A pilha que estou com medo é a [pilha de] mídia de 5,25 polegadas. Provavelmente há 1.500 discos ou mais que precisam de imagens.

Se o histórico de versões na Wikipédia estiver correto, essa versão do 86-DOS é apenas a segunda a ter um número de versão pendurado nela, e é da época em que a SCP deu a ele um nome mais jeitoso. Afinal, não dava para ficar chamando o sistema de QDOS, que significa “Quick’n’Dirty Operating System” (Sistema operacional rápido e sujo).

Mas, como existiram sistemas operacionais para a arquitetura 8086 antes do IBM-PC? Simples, pequeno gafanhoto.

Várias empresas forneceram hardware baseado no Intel 8086 antes da IBM entrar no mercado (1981), e a SCP era uma delas. Em 1979, ela já estava vendendo uma placa com o barramento S100, a SCP-200B. Tim Paterson escreveu seu sistema operacional para esse hardware, do zero, usando a API de referência que é apresentada no manual CP/M da Digital Research. Logo, o CP/M não foi clonado nem sofreu engenharia reversa – escrever código para trabalhar com APIs existentes é o motivo da publicação da documentação da API.

O 86-DOS foi escrito para ser parecido o suficiente com o CP/M para facilitar o processo de portar programas do CP/M (baseados no Intel 8080) para o Intel 8086. O 86-DOS 1.0, que foi recuperado em 2008, veio até mesmo com um tradutor automático chamado TRANS.COM. No entanto, o 86-DOS não usava o formato de disco do CP/M. Em vez disso, ele usava uma versão de 12 bits do formato de disco FAT de oito bits do Microsoft Standalone Disk BASIC, lançado em 1978. O Apêndice H do manual do produto está lá descrevendo como funciona.

O Museu do OS/2 (OS/2 Museum) tem uma seção chamada DOS Beginnings, dedicada à história do 86-DOS, além de um artigo mostrando como fizeram para por a versão 1.0 funcionando. Há uma thread no X (antigo Twitter) do usuário NTDEV mostrando tudo com vários screenshots e um vídeo no YouTube (que está aí embaixo) mostrando tudo.

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.