Atari 50: The Anniversary Celebration – um não-review

Para comemorar os 50 anos da Atari, a empresa lançou uma “celebração de aniversário”. Compensa?

A Atari completa 50 anos neste ano da graça de 2022; poucas marcas dentro e fora do mundo dos games são tâo icônicas, tão nostálgicas… e tão maltratadas. A marca Atari andou sofrendo muito nos últimos tempos, e não seria nenhuma paranóia esperar alguma outra barbaridade do gênero nesta festa de 50 anos. Felizmente, alguém na Atari SA teve a brilhante ideia de chamar a Digital Eclipse, os magos da restauração de jogos clássicos (e também emuladores do impossível), para fazer um compêndio do mais importante da história da Atari. E daí surgiu o Atari 50: The Anniversary Celebration.

Have you played Atari today?

O que tem?

Evidente que o foco são as duas primeiras décadas da Atari, e em especial os jogos; se seu interesse na Atari envolve única e exclusivamente o Atari ST, já vou avisando que o computador de 32 bits de Jack foi citado de passagem. Para todo o resto (arcades, 2600, 5200, 7800, os computadores de 8 bits, Lynx, Jaguar) tem uma exposição interativa, dessas de museu moderno, com flyers, desenhos, entrevistas em vídeo e jogos… muitos jogos… 103 jogos. Jogos de arcade, jogos de Atari 2600, jogos de Atari 5200, jogos de Atari 7800, jogos de computadores Atari 8 bits, jogos de Lynx, jogos de Jaguar e jogos reimaginados. Lançados e não lançados. Todos os jogos completamente jogáveis; a Digital Eclipse chegou a extremos de fazer seu próprio emulador de Jaguar para que os jogos do último console da Atari sejam jogáveis.

Também tem os vapores.

Um destaque para os jogos Atari Reimagined, em que a Digital Eclipse fez releituras de clássicos da Atari; destaque para o VCTR-SCTR, que é basicamente o que acontece quando você bota Asteroids, Lunar Lander, Battlezone e Tempest no liquidificador dos gráficos vetoriais dos anos 70 (mas Yars’ Revenge Enhancer também vale a pena, no mínimo por motivos de Yars’ Revenge).

Dedo pra cima

Fiquei positivamente surpreso com a escolha dos marcos das linhas do tempo; não escondeu os momentos ruins – e, em especial, na seção dedicada ao Atari 5200, um vídeo intitulado “Uma tragédia”, o que já dá o tom.

Muito material. Mas MUITO material mesmo. Flyers, fotos, anúncios, até esquemas. E tem TODO o código-fonte de Combat para Atari 2600 em uma imagem. Isso mesmo. TODO o código-fonte de Combat para Atari 2600.

Lembraram do homebrew! Pelo menos para Atari 2600; além da inevitável lembrança que a Digital Eclipse e Ernest Cline (Ready Player One, caso você tenha vindo de outro planeta) fizeram um jogo chamado The Stacks para o console. Mas o vídeo que fala do homebrew é bom, sim.

Nem tudo são flores…

É uma coleção da Atari, “limpa” de produtores e franquias externas, portanto não tem os jogos da Activision para Atari 2600, nem Space Invaders, nem E.T, nem Caçadores da Arca Perdida, nem Alien vs Predator para Jaguar, nem… bom, vocês entenderam.

Falta gente que trabalhou na Atari de Tramiel (a Atari entre 1985 e 1995 continua sendo muito mal documentada), falta gente do marketing e do departamento de arte de todas as Ataris, faltam as mulheres programadoras.

Para quem navega com teclado e mouse, tem um bug que, aparentemente, o programa acha que só existe um teclado no mundo, o americano; como resultado, a tecla \ (que é muito usada na navegação dos items) está mapeada para a tecla ] nos teclados ABNT2.

Vale a pena?

Vale, e muito.

Não é barato (R$75,49 na Steam, R$159,95 na Xbox Store, R$199,50 na Playstation Store e R$207,02 na Nintendo eShop), mas é um dinheiro muito bem investido, porque não é apenas uma coleção de jogos.

Houve um esforço de curadoria bem cuidadoso da Digital Eclipse, de estudo, de entrevistas, de coleta de material, de garantia de jogabilidade, ao longo do tempo, com um trabalho digno de uma exposição interativa em um museu.

Se sua exposição ao gaming começou em algum Atari – arcade, videogame, computador – é item praticamente obrigatório na sua estante.

Sobre Cesar Cardoso

Cesar Cardoso é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis, acumulando a tripla função de pauteiro, referencial para evitar que a gente saia do tópico, e especialista em portáteis clássicos.