Coluna Vídeo Guia no Datassette.

Quando eu era garoto, eu e meu irmão tínhamos um terceiro companheiro de bagunça e traquinagem, que era meu avô, Alfredo. Hoje, se ele estivesse vivo, já teria passado dos 100 anos, e algumas coisas que ele nos proporcionou, estão conosco até o dia de hoje. A mesa onde estão os meus MSXs foi feita por ele (ele era um marceneiro amador), uma maquete de ferromodelismo que herdei dele (e estou aos poucos colocando mais itens), o Atari 2600, meu primeiro MSX (junto com meus pais)… E esse material, em parte é herança dele também.

A coluna Vídeo Guia foi escrita por Márcio Ehrlich, e publicada no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, entre 1984 e 1986. Foi o primeiro contato de muitos leitores com os videogames e a microinformática. E entre eles, eu. Essa coluna saía no Classificados do jornal, e tratava principalmente de jogos de Atari. Mas também tinha espaço para análise de jogos do Odyssey e do Intellivision, além de falar sobre computadores. Lá eu tomei conhecimento a respeito do Commodore 64, do TK-90x, do CP-400 e até vi o MSX por lá!

O material era muito rico, falando não só de informática, mas também de video, TVs, câmeras… Tudo o que despertava o nosso interesse na época. E vinha com muitas dicas e macetes dos videogames da segunda geração.

Então, meu avô, então assinante do jornal (coisa rara hoje em dia), recortou algumas dessas colunas para que eu lesse. Quando começamos a comprar o jornal de domingo, eu mesmo já ia e cortava o jornal. E eu tenho esse material guardado desde os anos 1980.

Na Internet, esse material é muito raro. Tirando algumas referências ao autor (que tem uma ficha imensa e uma diversidade de atuações impressionante, indo da psiquiatria à música, da publicidade à atuação na TV), achei praticamente nada. Eu queria digitalizar esse material, torná-lo disponível a todos. E aí veio a pandemia.

Há algum tempo eu decidi que investiria tempo para resolver algumas pendências de muitos anos, de uma forma diferente: A cada dia da semana, eu dedicaria 1 a 2 horas para resolver um problema. Se acabar, ótimo. Se não acabar, continuo na outra semana, no mesmo dia. Se der tempo, eu faço. Se não der, não faço. Menos é mais.

Um amigo (Rogério Belarmino, vocês já ouviram falar dele por aqui) me emprestou uma multifuncional HP que tinha um scanner com alimentador automático de papel. Uhu! Agora é hora de digitalizar a tralha toda. E investi tempo toda segunda feira para digitalizar livros, documentos, artigos… Uma pilha de papel de quase 2 palmos de altura passaram pelo scanner. De livros xerocados a manuais de software para MSX, de imagens de disquetes a artigos sobre diversos assuntos.

Depois, parti para usar o OCR (reconhecimento ótico de caracteres) no material digitalizado. Aí foi mais tempo ainda, revisando, corrigindo, reformatando documentos e publicando para que fosse facilmente acessível. A Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) certamente está muito grata por todo esse trabalho voluntário de digitalização e “OCRização”.

E aí… Sobrou as Video Guia. E vem a lista de problemas:

  1. Como é papel jornal, eu não poderia colocar num alimentador automático de papel. Ele não sobreviveria, é um papel já muito frágil, ainda mais com 35 anos de idade. Seria necessário digitalizar folha a folha.
  2. A coluna era quase sempre maior do que uma página A4, então eu teria que digitalizar em 2 ou até 3 partes e montar a imagem.
  3. Também tinha o problema com as cores: O papel jornal (que é de baixa qualidade) amarelou com o tempo (não dá pra fazer retrobright) e ao digitalizar, as imagens tem que ser tratadas.
  4. E pra piorar, alguns trechos estavam cortados, como as 12 partes com a resolução do jogo Raiders of the Lost Ark, para Atari 2600 (sim, o jogo do primeiro filme do Indiana Jones – e eu só cheguei na 6a fase). E eu precisaria montar o recorte de jornal de novo.

Ou seja, eu precisaria digitalizar tudo, montar as imagens, tratar as cores e remontar as partes faltantes. Resolvi fazer, e com paciência oriental concluí o trabalho essa semana. Usei os programas simple-scan, hugin, gimp, ImageMagick e img2pdf nesse processo todo.

O resultado é um documento em PDF com 59 páginas, com todas as colunas que eu tenho ainda em minha posse. Postei o material no Datassette, site amigo nosso e que hospeda muito, mas muito material sobre microinformática, eletrônica, videogames e mais coisas ainda. No último torrent deles, de julho de 2021, era um total de quase 700 Gb de material disponível.

Eu subi o material, mas revendo… Vi que não ficou bom do jeito que eu queria. Então dediquei tempo a rever página a página, refazer a digitalização de algumas páginas, consertar outras que estavam rasgadas (papel velho, né?), e montar o PDF com as páginas centralizadas, num mesmo tamanho.

O resultado está aqui, disponível até o próximo domingo, dia 7 de agosto de 2021, no WeTransfer. Depois, só no Datassette, nesse link aqui. Essa versão revista e corrigida, segundo os melhores textos em hebraico e grego (hehehe) já foi repassada em primeira mão para o pessoal do Datassette, para que eles façam a troca. A primeira versão do PDF tem cerca de 240 Mb. A versão definitiva é muito maior: 469 Mb.

Se alguém quiser tentar melhorar a questão das cores (eu sou muito ruim nisso), os arquivos originais estão todos aqui, é só pedir que eu disponibilizo. Espero que vocês gostem dessa preciosidade da história dos videogames no Brasil. Todo o trabalho foi muito penoso e lento, mas recompensador.

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.

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