No dia de hoje, há exatos quarenta anos, ocorreu uma entrevista coletiva onde foi anunciado o lançamento do padrão MSX. Estavam nessa entrevista coletiva Kazuhiko “Kay” Nishi, o então presidente da ASCII Corp. empresa que era, entre outras coisas, a representante da Microsoft no Japão.
O primeiro MSX a ser lançado comercialmente foi o Mitsubishi ML-8000, em outubro daquele ano. A Toshiba lançou o seu HX-10, que se tornou uma família de micros MSX (cinco versões japonesas e seis versões européias!), a Sony lançou o seu… E por aí vai.
Poderíamos falar muitas coisas a respeito do padrão MSX e de Kay Nishi, várias delas em demérito: Podiam ter usado um Z80 mais rápido (3,58 Mhz foi uma aposta conservadora), Nishi é megalomaníaco (e é até hoje), o MSX 2 deveria ter sido o MSX 1… Mas não podemos negar duas coisas:
- Nishi conseguiu convencer cerca de 25 empresas de eletrônica de consumo a investirem num padrão de computadores único. Numa época onde todo mundo via empresas desconhecidas (como a Commodore), empresas vindas dos videogames (a Atari) e startups (a Apple era uma!) produzindo e vendendo seus micros… Cada um queria ganhar o seu espaço. Logo, a ação do Nishi é um feito e tanto. Eu desconfio que ele seria capaz de vender gelo para esquimós. E lembremo-nos de que o mundo (ainda não tão conectado como hoje) estava embriagado com os microcomputadores, tanto que a revista Time tinha dado o título de Homem do Ano ao microcomputador em 1982.
- O padrão MSX criou algo que hoje é trivial, mas na época era inédito: Compatibilidade. Você podia ter um MSX feito por um fabricante e usar um periférico feito por outro fabricante. Para mim, em particular, aí reside uma das maiores belezas do padrão, e que me fizeram me encantar com ele, tanto que minha coleção se pauta em ter Pelo Menos Um MSX De Cada Fabricante. Até aqui, 33 MSX e contando – a Cláudia já desencanou, ainda mais com a dedicatória que fiz no meu primeiro livro sobre MSX, O MSX-DOS Revelado: Para Maria Cláudia, minha esposa, que me ama mesmo com todas as minhas esquisitices, incluindo mais de 30 MSXs em casa. Te amo, lindinha.
Posso explicar meu encantamento com o padrão com um dos agradecimentos que está no mesmo livro , “Aos meus pais e meus avós paternos: Sergio, Maria Madalena, Alfredo e Alice (em memória), que não sabiam o “erro” que cometeram, quando em 24 de maio de 1986 presentearam a mim e ao meu irmão Fabio com um Expert 1.0, uma TV de 14 polegadas e um gravador cassete. Aquele ato deles mudou a minha vida”. E, sim, meu pai se emociona sempre que lê essa frase.
Há quem diga que na verdade, o aniversário do MSX é o lançamento do ML-8000, em outubro. Outros falaram que o aniversário ocorreu alguns dias atrás. Mas numa pesquisa rápida, encontrei o dia de hoje como a referência mais confável. Até a Wikipédia fala isso. E se está na Wikipédia, então é verdade (ironia minha).
Várias informações são controversas sobre o MSX:
- O significado da sigla: “MicroSoft eXtended”, “Machine with Software eXchangeability”, “Matsushita-Sony X-Power”, etc… Mas eu tenho a teoria de que MSX é porque a sonoridade em japonês é boa, e pronto, escolheram essas letras. O significado da sigla nunca foi importante.
- A quantidade de micros vendidos no mundo: uns falam em 9 milhões, outros em 12 milhões…. Qualquer número entre esses é válido!
- No Brasil, quantos micros foram vendidos aqui: Há sempre a hipótese de que foram mais ou menos, mas no episódio 86B, Oscar Julio Burd, que trabalhou na Gradiente e foi alvo de xingamentos de muita gente, 400.000 é um número bem próximo da realidade. E convenhamos, no Brasil dos anos 1980, é uma marca impressionante. Não adianta comparar com os anos 2020, que é uma perda de tempo e uma fuga completa de contexto.
- E é claro, a fake news de que a Gradiente e a Sharp do Brasil não eram parte do consórcio MSX… Tem sempre um tolo levantando essa mentira com base em observações feitas por esse abalizado instituto de pesquisa. Bem, há três afirmações claras contra essa mentira amplamente divulgada:
- No MSX Data-Pack, a última documentação oficial do padrão, Gradiente e Sharp do Brasil são listadas como fabricantes. Está lá, e também está na BIOS.
- A Gradiente teve acesso aos designs de referência do padrão, como o gravador cassete (a Casio teve um idêntico) e o (horrível) joystick (Mitsubishi, JVC, Pioneer e tantos outros fizeram joysticks igualmente horrorosos), e reproduziu.
- A afirmação que eu ouvi de Milton Scorza, então diretor de marketing da Sharp, de que tanto a Sharp do Brasil quanto a Gradiente eram parte do consórcio.
Mas então, voltando ao aniversário… Parabéns a este que é “o mais mágico dos microcomputadores“. Entre todos os micros clássicos, é o MSX que faz o meu coração bater um pouco mais forte. A partir dele, conheci pessoas, aprendi a programar e soldar (tudo mais ou menos), fiz amigos (vários o são até hoje), organizei encontros, viajei, montei listas de discussão, escrevi livros (estou escrevendo um segundo e tenho ideias para um terceiro), comecei a fazer podcast (quem diria) e tive portas sendo abertas. O MSX tem sido uma grande escola para mim, e eu quero dedicar esse aniversário a todos que tem muito carinho por essa máquina. Que venham mais muitos anos de MSX!
E se você quiser comemorar o aniversário do padrão, saiba que haverão festividades: Na França haverá um encontro para celebrar esse aniversário, e festividades semelhantes ocorrerão no Japão, como a MSX GOTO40. E na próxima MSXRio, celebraremos essa data!
Ah, não achei o link da entrevista coletiva original, mas achei a respeito de uma entrevista dada pelo Nishi à MSX Magazine, em 1992. Divirta-se e celebre. Abrace o seu MSX mais perto de você e diga a ele um honesto Feliz aniversário.
40 anos, com um corpinho de 8… bits!!
Vamos celebrar!!!!
MSX para sempre… ao infinito e além! X-D