Foto do dia: Laboratório da Revista Nova Eletrônica, 1979

Everaldo Lima, o jovem mancebo em destaque, conta a história logo abaixo.

LabNovaEletronica

Essa foto é de 1979 e ainda não trabalhava em nenhum micro. Iniciei na Nova Eletrônica consertando kits. No laboratório eu ainda consertava kits quando o Eng. Popovich saiu para a Microdigital e foi contratado um novo Gerente, o Eng. Renato Bottini.

Entre um conserto e outro, eu me dedicava (em off) a um projeto meu, de um circuito que fazia as mesmas funções de um brinquedo muito popular na época o GENIUS.

Num dia, o Eng. Renato me pegou dando atenção ao meu projeto e me perguntou o que era aquilo. Pensei que seria uma bronca, quando ele me chamou a sua mesa. Depois de explanar para ele sobre o projeto, ele me convidou a fazer parte da equipe técnica da revista, e então comecei a projetar kits e escrever artigos para a revista.

Pouco antes do lançamento do CP200 o Eng. Renato Bottini saiu da Nova Eletrônica e pouco depois do lançamento, ele me convidou para trabalhar na ITAUTEC.

A ideia de lançar o NEZ80 foi do Sr. Joseph, um dos sócios e diretor da Filcres (empresa do grupo). Em uma conversa com ele, no início da produção na linha da Prológica, ele me confessou que estava apreensivo com o sucesso do projeto. No final foi um grande sucesso.

No início intenção era lançar na forma de kit. A ideia de kit foi abandonada, pois seria complexo demais e certamente causaria muita insatisfação aos leitores que não conseguissem montá-lo com sucesso.

Nesta época o laboratório da Nova Eletrônica, onde eu trabalhava, era em uma pequena sala na Filcres. Foi quando recebemos um exemplar do ZX-80 da Sinclair para examinar. Pouco sabíamos de computadores e me lembro de várias horas em frente a uma TV Philco, usada como monitor, lendo o manual do ZX-80 e teclando programas em BASIC para aprender a linguagem.

Eu achava o máximo, pois foi um dos primeiros computadores realmente com linguagem de alto nível (BASIC) e que qualquer um podia programar. Nesta época os poucos kits do computadores eram meramente didáticos e somente programável em linguagem de máquina, ou seja, somente para o pessoal técnico.

O processo de “nacionalização” foi tranqüilo, basicamente foi desmontar o original, copiar o layout da placa de circuito impresso, o software e produzir uma caixa (em vacuum form) e o teclado.

A única adaptação foi uma pequena mudança no circuito para acomodar o software em uma memória EPROM (regravável) , pois o original usava uma memória ROM (era fabricada já com o software e não podia ser regravada). No mais somente adaptar e escrever um manual nacional.

Os produtos NEZ fizeram um enorme sucesso. A linha de produção da Prológica quase não dava conta. Havia lista de espera.

Embora a Equipe de desenvolvimento da Revista Nova Eletrônica era muito enxuta, nesta época apenas 5 pessoas (incluindo uma secretária), eu tive que ser deslocado para acompanhar a linha de produção do NEZ80 na Prológica.

Além de treinar os técnicos para os testes consertos na Linha de produção, tive que consertar e testar pessoalmente muitos exemplares. Não tenho condições de dizer quantos foram produzidos, mas posso afirmar que naquele momento foi a maior linha de produção da Prológica, somente foi ultrapassado com os modelos do CP500, impulsionado pelo Projeto Ciranda.

Lembro-me que quando estava acompanhando a linha de produção resolvi fazer um programa que realmente fosse útil e terminei conseguindo fazer um programa que calculava e plotava um gráfico que mostrava os dias férteis para as mulheres. O programa causou um alvoroço na linha de produção, pois as montadores vinham até eu para “calcular” seus dias férteis.

Um dia, fui chamado à sala do Sr. Joseph que me perguntou se havia sido eu quem tinha feito aquele programa e o porque, pensei que ia tomar uma tremenda bronca. Na verdade ele queria saber se eu o deixaria publicar na Nova Eletrônica, pois o programa estava famoso dentro da empresa. Claro que autorizei, mas com a condição de se colocar uma nota no final me isentando que qualquer responsabilidade sobre o uso e eficiência do mesmo. Fico pensando quantos filhos nasceram por influência do NEZ80.

(Facebook)

Sobre Juan Castro

Juan Castro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis – a única cujo Micro Formador não foi o MSX (e sim o TRS-80). Idealizador, arquiteto e voz do Repórter Retro. Com exceção do nome, que foi ideia do Cesar.

0 pensou em “Foto do dia: Laboratório da Revista Nova Eletrônica, 1979

  1. Emocionante ler um relato de quem, não só foi testemunha, mas fez parte do seleto grupo de pioneiros da informática e da eletrônica no Brasil. Minhas reverencias!!

  2. A década de 80 foi uma época de muita correria e disputa tecnológica, no Brasil. Embora a lei de proteção de mercado deva ter freado o desenvolvimento para as aplicações que dependiam de informática, por outro lado, tornou possível a formação de muitos profissionais que tinham que, invariavelmente, garimpar e ter muita criatividade para evoluir. Me sinto orgulhoso de ter participado desta história.

    Em meu blog conto essas e outras histórias do início desta década.

    http://erl4ever.blogspot.com.br/search?q=nova+eletronica

    Um abraço a todos !!!