Há algum tempo me peguei analisando versões de jogos estadunidenses clássicos e que foram convertidos para o MSX (mais precisamente para MSX2), lançados no Japão — obviamente que localizados para o idioma japonês — e que eram obscuros para mim, pobre usuário ocidental de um computador da terra do sol nascente. E neste grupo estavam franquias conhecidas como a criação de Richard Garriott (o Lord British), a série Ultima — no MSX: I, II, III e IV.
E destes jogos lembro de ficar especialmente interessado no Balance of Power, criação de Chris Crawford, publicado pela Mindscape e convertido pela ASCII Corporation (já ouviram falar?) para MSX2. Tão interessado resolvi querer jogá-lo no MSX! Mas como fazê-lo se nada sei de japonês? Tentativa e erro? E será que ele poderia ser traduzido? Mas como?
E já que estava no campo das (im)possibilidades resolvi verificar se a abordagem da Pedra de Roseta ainda funcionava nos dias atuais. Principalmente depois de ver isto aqui:
Estava escrito Brasil, ou melhor, ブラジル (“Burajiru”), Sendo assim tudo o que precisava fazer era descobrir onde o texto se encontrava dentro dos arquivos do jogo e alterar o texto! Fácil? Talvez bastante difícil se considerarmos que os japoneses codificam os ideogramas das formas mais variadas, porém resolvi começar tentando com o mais óbvio, o ShiftJIS! Por que?
Na ordem: (1) era um padrão criado pela Microsoft, e em 1985 a ASCII Corporation era a Microsoft no Japão e (2) eles não iriam reinventar a roda se poderiam usar um padrão que eles mesmo criaram!
Então eu precisava procurar por ブラジル na imagem de disco do jogo, ou melhor, deveria procurar por isto aqui:
~$ cat brasil.txt ブラジル ~$ hd brasil.txt 00000000 83 75 83 89 83 57 83 8b 0a |.u...W...|
E vejam só, eu a encontrei!
Uma curiosidade é que a sequência similar e que a antecede é ブラジリア (“Burajiria”), ou seja, Brasília (isto eu verifiquei depois). E como eu tinha um espaço de 8 bytes coloquei “Brasil”+<espaço>+<espaço>, salvei as alterações, rodei novamente o jogo e vi na tela (sim, eu escrevi Brasil ao invés de Brazil):
Outra coisa que reparei era no fato de que cada string terminava em NULL (ASCII 0), ou seja, a “coisa” era organizada! Então, seria possível criar uma ferramenta que varresse um arquivo específico, ou uma imagem de disco no caso de jogos setorizados, e procurasse por sequências de texto em ShiftJIS (ou mesmo EUC-JP com algum modificação no código) listando-as e salvando em um arquivo que poderia ser usado como referência para a tradução!
E como o jogo era originalmente em inglês, a “tradução” já estava pronta! Bastava você ter a mínima noção do que o texto em japonês queria dizer (aí usando um dos vários tradutores online que estão disponíveis pela Internet — como vocês acham que eu codifiquei Brasil em japonês?).
Ou seja, precisava montar um programa (um utilitário completamente novo visto que não achei nada parecido) para me ajudar nesta tarefa. Mas isto fica para segunda parte.
Fascinante, mal posso esperar para ver a continuação deste post. Trabalho fantástico do Giovanni. Chama atenção a disformidade do mais do Brasil. O trabalho dos desenhistas até que está razoável para o resto do mundo, principalmente considerando as limitações de memória e resolução da máquina, mas no caso do Brasil ficou muito diferente do formato real.
É que nem o War, não tem todos os países. A Suécia englobou a Noruega, a Alemanha fagocitou meia dúzia de países, o Brasil comeu a Bolívia e as Guianas, a Argentina absorveu o Paraguai e o Uruguai etc.
Ah, e não mostrem esse jogo pra equatorianos. NUNCA.
Detalhe que o mapa do Brasil poderia ser qualquer outro país….enfim. Levemente deformado.