Quinta do pitaco: Será que o vapor do MSX3 começou a solidificar?

No post passado, trouxe aqui mais um pouco do que o Nishi pensa sobre o MSX3. Agora, continuaremos a comentar os tweets. Só que dessa vez, há novidades mais palpáveis quanto ao projeto. Se ele vai solidificar ou não… Se prepare que ficou grande.

Em 23 de junho de 2022, Nishi postou, em inglês:

Tradução (alquebrada) feita por mim mesmo:

Sr. Suzuki, presidente da D4 Enterprise, concordou que eles lançarão o 1 chip MSX 3 como seu console principal para o (Project) EGG. Como uma opção, teremos uma baia para DVD ou Blu-Ray e suportará CD, DVD, Blu-Ray e Blu-Ray em ultra alta definição (4K). O anúncio do 1 chip MSX3 será no fim do verão.

Curioso é que ele usou uma foto do OCM para ilustrar. Mas agora temos algo mais concreto. Vamos lembrar que o padrão MSX foi oficialmente lançado em 27 de junho de 1983, mas os primeiros micros (como o Spectravideo SVI-728, o Mitsubishi ML-8000 e o Toshiba HX-10) só chegaram no mercado em outubro daquele ano.

É claro que este assunto causou algum rebuliço em alguns meios de comunicação. O assunto apareceu em alguns sites, e podemos citar a PC Gamer, a Gamehall e é claro, o Konamito.

Do que lemos nos dois primeiros, somando ao que você já leu aqui, podemos acrescentar que o novo MSX suportará C, Python e LISP. Curioso colocar LISP na lista, visto que é uma linguagem “de nicho”. Mas se tem Linux embaixo, teria suporte a qualquer linguagem que há suporte no Linux. Python é a linguagem da moda, e C… Bem, C é C e pronto.

Agora, o melhor comentário que li foi o do Konamito:

Tirando alguns detalhes, é tudo adivinhação porque hoje não sabemos como é o MSX3 , quais especificações ele tem e quanto vai custar. Teremos que esperar pelo seu anúncio oficial agendado para o final do verão .

Enquanto isso, sejamos pacientes e não deixemos o hype atrapalhar nossa visão. No meu caso, uma vez anunciado e estudado suas características e preço, decidirei se compro ou não. Mas a priori, tendo um MSXVR e vários MSX2 e um MSX2+, por que preciso de mais?

Comentário meu: MSXVR? Bem, vocês sabem minha opinião.

E vamos continuar analisando as falas do Nishi. Em 25 de junho de 2022, ele falou sobre a educação formal em nível superior, direcionada à informática, e falou no MSX ser “um computador de hobby”. Comentário meu: Alguém já falou a esse japonês sobre Raspberry Pi, Arduino, ou mesmo sobre essa placa aí do lado, o Micro:bit? Novamente: Se a proposta dele tivesse vindo em 2012, seria outra coisa. Agora, ele está BEM atrasado. Ele não só perdeu o bonde da história, mas perdeu bonde, metrô, VLT, BRT e o escambau. Perdeu tudo.

Logo, com o meu comentário acima, eu vejo pelo tweet que ele enviou dois dias depois, que ele está mais perdido do que cachorro em procissão. Segue o tweet:

Tenho uma dúvida sobre o que fazer com o msx para empresas, mas quero facilitar para os indivíduos programar e vender online. No mundo todo. O grande desafio desta vez não é apenas se divertir, mas também ganhar dinheiro.

Bem… Vocês tirem suas conclusões. Nessa eu deixo passar para não parecer sempre o zangado. Ele ainda comentou no dia seguinte sobre o SoC da Broadcom, usado no Raspberry Pi (não considero muito relevante), mas o próximo tweet é realmente relevante, ao menos para vermos aonde isso vai dar.

Em 6 de julho ele anunciou:

MSX DEVELOPER CONFERENCE 1 Tóquio – Capacidade 500 pessoas – 30 de julho – Provavelmente no Zoom

Sim, eu dei uma enxugada no texto, resumi um pouco. Vamos lá… Teremos um evento presencial no próximo dia 30 de julho, sábado. Comentário (cretino) meu: Justamente uma semana antes da RetroRio, vejam só, ele escolheu bem a data para não conflitar com nosso evento de proporções planetárias (sim, estou sendo irônico). Ainda tem um tweet sobre gordices…

Mas no mesmo dia, ele fala que há um protótipo de um cartucho de IoT para MSX pronto. Wi-fi, com duas antenas, Bluetooth, conector Groove, i2c, o MSX Engine 3… E ele falará mais a respeito na MSX DEVCON 1 Tóquio (mudou o nome do evento, pelo visto). Ele ainda colocou três fotos, mas eu coloco abaixo apenas uma, para o seu deleite.

Se você quiser ver as outras fotos, estão lá no tweet que eu linkei aí em cima. No dia seguinte, ele falou sobre detalhes a respeito do evento. Se eu entendi bem, ocorrerá na Sala de aula 213, no Edifício 2, na faculdade de Engenharia da Universidade de Tóquio. Se está claro lá, serão duas apresentações, com 250 pessoas de cada vez.

Dia seguinte (nossa, esse japonês não pára de escrever não?), o Nishi fala do PE (Processor Element) para supercomputação ligada ao MSX (hein?!). O MSX Turbo 8 (eita) terá 8 processadores ARM64 e 6 canais de interconexão de 4 Gigabits, podendo ter memória DDR ou SSD ligados ali (comentário meu: SSD é disco, DDR é memória. Alguém avisa a ele). E no tweet seguinte (cansei de por link), alguns comentários sobre supercomputação e MSX, e menção à biblioteca de programação paralela MPI (que já é aberta, é a Open-MPI) e à linguagem de programação FORTRAN.

Ele ainda elucidou seu plano (macabro?): Foco em IoT, supercomputação e um computador de passatempo. Ele mostrou ainda uma imagem com um hub USB de 8 portas, e disse: Parece que plug & play funcionará no Linux e será divertido.

Dois dias depois, ele falou que já tem mais de 500 pessoas inscritas, e que só haveriam vagas se houvessem cancelamentos. Comentário meu: No Japão, um arquipélago pouco maior do que o estado do Rio de Janeiro mas com mais do que 10 vezes o número de moradores desse estado… Juntar 500 pessoas não é difícil. Ao menos, essa é a minha opinião.

Daí, Nishi calado por onze dias… Até que ele fala que não serão uma DEVCON, mas sim três:

Começamos a informá-lo sobre a DEVCOM em 30 de julho. Eu acidentalmente notifiquei pessoas estrangeiras, mas desta vez farei isso no Japão. Não há Zoom. Da próxima vez, farei em inglês com Zoom como DEVCON2. Provavelmente no final de setembro. DEVCOM3 está na Holanda e eu gostaria de visitá-lo em um evento de MSX em janeiro próximo.

Vale lembrar que Nishi já compareceu em encontros de MSX no exterior, como o encontro de Tilburg, Holanda, em 2001. Se você quiser assistir o vídeo, está aí embaixo:

Se eu entendi bem, a DEVCON 1 será no dia 30 de julho, no Japão. Depois haverá a DEVCON2, em local ignorado, onde ele falará em inglês sobre o projeto MSX3. E finalmente, em janeiro de 2023, ele quer comparecer num encontro de usuários MSX na Holanda, para falar sobre o projeto. Bem, no início do ano normalmente ocorre o encontro de Nijmegen… Em 2022 ele ocorreu em março.

Comentário meu: Hoje em dia, a cena MSXzeira está bem dispersa. Holanda já foi o foco principal, mas a Espanha cresceu muito na cena, com o desenvolvimento de jogos e software em geral. Por que não comparecer na RU de Barcelona, que é um evento muito tradicional da cena MSXzeira espanhola? A sensação que eu tenho é que o Nishi não conhece muito bem a comunidade… Mas divago.

E no dia 26 de julho, Nishi anunciou que a DEVCON1 seria adiada para dia 3 de setembro.  Ele ainda falou em transmissão via Zoom (outra buzzword dos tempos pandêmicos), mas como isso ocorrerá, não sei. Vale dizer que ele fez esse tweet em inglês E japonês. Tomou o cuidado de ser inclusivo para pessoas não nipo-parlantes.

No mesmo dia (está quase no fim, força!), ele engatou uma thread comprida, falando do projeto com mais detalhes. Vamos ao resumo:

  • O MSX para IoT será chamado MSX 0.
  • Esse MSX 0 terá uma placa Arduino (outra buzzword), ESP32 (mais uma), com wi-fi e USB, com um MSX CONTROL BASIC para esse MSX 0.
  • A versão 32 bits do MSX Turbo é ter 128 núcleos de processamento usando 4 CPUs XMOS (e aí eu descubro que XMOS é o nome de uma empresa focada em IoT), e ele quer vender ao custo de 1000 ienes por núcleo. Ou seja, 128 mil ienes. Na conversão de hoje da moeda, R$ 4.950,57. Caro para quaisquer padrões mundiais, não só para a nossa combalida economia verde amarela.
  • Ele disse também que “a peça central da versão de 64 bits do MSX turbo é o CPU Altera MAX da ARM 64 bits Menicoa Ampere, que possui 128 CPUs. Isso parece um pouco caro (não diga!). Por enquanto, vamos estudar Menikoa com 128 núcleos de XMOS. Então você pode passar para 64 bits.” (grifo engraçadinho meu). Ele ainda faz um comparativo de preços com os AMD Threadripper (que são absurdamente poderosos e tremendamente caros).
  • Sobre a parte de vídeo, ele colocou uma GPGPU da Nvidia, e finalmente, uma nova buzzword apareceu no texto: Metaverso! Sim, o novo engodo projeto da Meta. E ele ainda menciona o chipset Jetson Orin, da mesma fabricante.
  • E no som, ele fala de usar um SHARC DSP, com 8 canais de som digitais e estéreo, mas até três desses DSPs podem ser conectados. 24 canais de som, e aí ele fala de novo de Metaverso, entrada de 10 Mhz, microfone… Comentário meu: E a porta de cassete?

Agora, uma coisa interessante que ele disse é que qualquer um poderá fabricar o seu MSX 0 baseado nas especificações e vendê-lo. Certo, e como ficam as questões sobre licenciamento de marca, pagamento de royalties, etc? Se você ouviu nosso episódio (gigante e anual) sobre MSX, notará que o único MSX fabricado atualmente que paga royalties é o GR8BIT, do Eugeny Brychkov. E a marca MSX está registrada no INPI, aqui no Brasil, até 2029, em nome da MSX LC. Eu pessoalmente verifiquei quando tratei de fazer o registro de algumas marcas no INPI (*) . Então… Como isto ficará?

Aliás, gostaram da imagem ali em cima? Um tanto quanto personalista, o que o Nishi está fazendo nas fotos? E não é só nessa foto. Ainda tem mais:

  • Vídeo: Eles estão procurando a solução mais barata, usando uma placa da NVidia com o chipset Jetson.
  • Uma placa com 10 conectores USB a ser ligada em um MSX, e seu micro “vira” um MSX 3. Não sei como será isso, talvez seu Expert DD-Putz vire um terminal burro, não sei…
  • Aí ele volta no projeto do MSX Turbo 16X, com 16 chips da XMOS. A meta é 128 mil ienes para uma placa com 128 núcleos de processamento. Supercomputação pessoal, segundo ele.
  • Ele mostra uma foto da placa do MSX Turbo 8A, com 2 FPGAs (o Santo Graal dos retrocomputeiros), com um ARM de 8 núcleos. Mas o MSX 3 pode ser expandido até 16 placas, e misturado com esse MSX Turbo 4A, de 64 bits.

E o último tweet do Nishi, escrito algumas horas antes de escrevermos esse texto todo, foi o seguinte:

Estamos planejando uma sessão de briefing para msx3 para desenvolvedores japoneses (principalmente indivíduos). Curta apenas quem quiser participar. A data de vencimento é sábado, final de julho. O lugar é Tóquio Cerca de 3 horas da tarde. Por favor, assine um acordo de confidencialidade comigo

Alguns comentários:

  • Pelo menos escreveram briefing certo. Aqui, em terra brasilis… Não rolou.
  • Os Non-disclosure agreement (NDA) é algo muito comum na indústria, com multas pesadas e restrições para membros da sociedade que tenham acesso a informações privilegiadas e as vazem antes do tempo certo. Só quero ver ele aplicar isso numa comunidade apaixonada como a MSXzeira. Se bem que a comunidade MSXzeira japonesa é quase uma aparição fantasmagórica: Todo mundo diz que viu, mas ninguém prova.
  • Agora, queria ver um NDA assinado por espanhóis, holandeses ou brasileiros. Ia ter gente se retorcendo todo para não falar.

Ufa. Cansaram? Pois é. Mas não acabou. No próximo post, eu vou investigar o blog do Nishi, onde ele fala de Ucrânia, Rússia, Internet, multiplexação de sinais, empreendedorismo… E MSX3. Até lá!

(*) RetroRio é uma marca registrada agora, e Retrópolis está em vias de ser registrado também. Viva!

 

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.

Um comentário em “Quinta do pitaco: Será que o vapor do MSX3 começou a solidificar?

  1. O MSX 3 está com a mesma hype de algumas das versões floppadas do Windows, e não duvido que vá ter o mesmo destino, portanto vamos ignorá-lo e começar a discutir o MSX4.

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