Pintura hidrográfica, ou… Usando um balde para pintar seu micro.

Eu gosto da ideia de personalizar (modificar) alguns itens da minha coleção. Claro, eu tenho ainda um pingo de bom senso, e não arranquei o drive do meu SVI-738 (transformado para MSX 2) e serrar o gabinete para puxar um segundo slot. Ainda não, se bem que esse segundo slot faz uma falta… Sobre o SVI-738, vocês podem ver as minhas elocubrações nesses posts aqui (o primeiro da saga).

Mas eu tenho dois Hotbits em casa. Um é um Hotbit branco, original (mas sem a bendita tampa do slot lateral), e o outro… É esse aí embaixo.

Sim, fiz um Bluebit. Ou um Coolbit. Acho que vou abrir uma votação para vocês batizarem meu Hotbit azul… Eu ainda não decidi. Bem, se vocês quiserem ver mais fotos da minha “arte”, tá tudo aqui no Google Fotos, em maior resolução. Mas como vocês sabem, eu gosto de me aventurar pela pintura, e tentar obter algo diferente. E nessas, descobri a pintura hidrográfica.

E o que é pintura hidrográfica?

A pintura hidrográfica (ou WTP, water transfer printing) consiste em aplicar uma película hidrossolúvel em uma peça, de forma que ela fique como se fosse uma pintura. Logo, você deverá colocar a película sobre a água (parada), borrifar um solvente e depois, bem devagar, colocar a peça que será “pintada”, de forma que a impressão grude na superfície da mesma.

Logo, é possível aplicar essa película em qualquer peça que possa ser imersa em água.  Seguem alguns exemplos:

Certo, algumas não tem lá muito bom gosto, mas vocês pegaram a ideia. Esse processo é feito muitas vezes pelo pessoal que faz tuning de carros, mas é possível aplicar em virtualmente qualquer coisa que possa ser imersa em água.

Requisitos

Vamos então a lista de material:

  1. Um recipiente com água. Bem, você vai precisar de um recipiente onde seja possível inserir toda a sua peça. Quanto maior for a peça, maior o recipiente. Se você quiser personalizar um cartucho, uma capa de celular ou alguma peça menor, ótimo, um balde resolve. Mas se for a tampa de um Expert, você terá que usar um recipiente onde ele possa ficar totalmente submerso, e a película não pode ficar vincada ou dobrada – ela deverá estar totalmente estendida sobre a superfície da água.
  2. A película hidrográfica em si. Você pode encontrar a película em diferentes tamanhos. A largura padrão é de 50cm, mas também existem algumas com 80 cm e 1 m de largura. A película é composta por um polímero solúvel em água e biodegradável. O ideal é que ela fique guardada a uma temperatura entre 20 e 25°C , o que é algo meio difícil falando do Brasil…
  3. Um frasco de ativador. O ativador é um produto químico que deverá ser borrifado sobre a película, e é ele que garantirá que a película vai aderir ao objeto no processo de pintura. O ativador deve ser utilizado com cuidado e moderação.
  4. Um spray de verniz, para fazer o acabamento da peça. O verniz deixa a pintura hidrográfica mais resistente e brilhante.

Vantagens e desvantagens

Bem, vantagens… A principal é que dá pra pintar a tampa do seu micro, a carcaça do seu videogame, a capa do seu celular, seu cartucho ou qualquer outra coisa… Dentro de casa. Não precisa montar um circo com lona plástica, mesa, sprays e outros trecos.

As fotos do Hotbit azul que vocês viram, foram feitas em um canteiro de obras, perto da minha casa. Logo, eu podia pintar o chão – caso fosse muito ruim de pontaria com o spray – que não havia problema, ainda não tinha piso. Mas o tempo passou e o canteiro virou casa, que está habitada no momento (Oi pai! Oi mãe!), logo, usar spray significa encontrar outro espaço onde eu possa fazer minhas “artes”. Eu acho que consigo locais aqui onde resido, mas nem todo mundo tem essa chance.

Temos também os problemas de cheiro devido à tinta, alergias que podem ser ativadas… Outra vantagem é que não tem cheiro forte. A chance de ter problemas de saúde são mínimas.

O polímero protege a peça, e com o verniz aplicado, ainda fica mais resistente. Esta é mais uma vantagem. Legal, né?

Mas aí você vai me perguntar sobre desvantagens…. Bem, eu pesquisei e achei duas. A primeira é que, se acontecer um pequeno risco, você terá que repintar a peça toda. A segunda é que não encontrei películas que sejam de cores sólidas, somente personalizações. Logo, se você quiser repintar aquele seu micro com uma cor cinza chumbo, original dele, vai ser difícil encontrar uma película dessa cor. Mas você encontrará com certa facilidade películas que simulam fibra de carbono, aço escovado, madeira, estampas de caveiras, raios, rótulos de cerveja… De tudo que é tipo.

Como fazer?

Vamos então ao passo a passo.

  1. Prepare a peça. Limpe a peça que sofrerá a adesão da película. Limpe-a  completamente. Nada de gordura, poeira, sujeira, etc. No meu caso, eu fui para outro canteiro de obras não finalizado aqui perto e apliquei removedor de tinta na peça. Eu sou do tempo do Pintoff, mas foi difícil achar, e me indicaram um outro… Cujo nome é Striptizi, esse aí do lado. Sim, pode rir, esse é o nome do produto. Ele é um gel, logo aplique com pincel, espere um tempo e raspe com uma espátula. Depois eu lavei a peça. E deixei secando.
  2. Se possível, passe uma lixa fina sobre a peça. Alguns materiais, como vidro, não precisam de lixa. Mas recomenda-se passar uma lixa fina para aumentar a aderência da película na peça. Isto vale para plástico, madeira, metal… No meu caso, passei uma lixa fina, se não me engano 400.
  3. Uma coisa que eu fiz e melhorou a aderência, foi pintar a peça com um spray de tinta primer. O primer, como é sabido por muitos (não todos) é a tinta base, para depois aplicar a demão de tinta. Eu peguei uma lata de spray primer que tinha aqui guardado, fui lá pro mesmo canteiro de obras e dei 3 demãos de primer na peça, por dentro e por fora. No meu caso, ainda dei umas demãos de branco por dentro, mas ficou um pouco demais e custou a secar. Deveria ter aplicado menos tinta, mas no final das contas só demorou mais para secar. Eu ainda lixei o primer, para tirar algumas imperfeições.
  4. Agora, para a pintura hidrográfica, encha o recipiente de água, e coloque a película nela. O recipiente deve ser grande e fundo o suficiente para que a peça possa ser toda submersa.
  5. Uma coisa importante que poucos falam, que é o lado da película que deve ser colocado na água. Pra saber, umedeça as pontas dos dedos, e pegue a película. Um dos lados grudará no seu dedo. Esse lado é o que deve estar voltado para baixo. Eu sempre fazia colocando o lado mais adesivo para cima, para grudar na peça. Está errado, tem que ser o lado mais adesivo voltado para a água.
  6. A película deve ficar estendida sobre a água. Uma dica é deixar um pouco da película sobrando sobre as bordas, para evitar que a película se mova sobre a água. Eu coloquei uma parte sobre a borda, mas em alguns casos usei fita adesiva para prender, nas bordas do recipiente. Tome cuidado ao colocar a película sobre a água, para que não se formem bolhas de ar. Após colocar a película sobre a água, deixe que ela se adapte à superfície, aguardando até 2 minutos. Se tiver bolha, sobre com cuidado ou use as mãos com muito jeito para remover as bolhas.
  7. Borrife o ativador sobre a película. Você pode usar o ativador em spray, ou usar um borrifador de plantas, que compramos em qualquer supermercado. Tome cuidado com a quantidade de ativador, apenas uma fina camada é necessária. Aplique a uma distância de 20 cm da película – que está boiando sobre a água. Aguarde o ativador agir por cerca de 5 segundos. Você verá que a pelicula começa a se alargar um pouco. Chegou a hora.
  8. Agora é a hora de aplicar a peça. Ela deve ser mergulhada na água, DEVAGAR. Insira-a com um ângulo de inclinação entre 30 e 45° em relação à superfície da água. Assim a película vai aderir melhor. Novamente, custa nada lembrar… Mergulhe a peça DEVAGAR e a mantenha submersa por pelo menos 10 segundos. Antes de retirar a peça da água, dê uma balançada, tire as sobras de película que ficaram em volta das partes já finalizadas.
  9. Tirou? Ótimo. Aguarde um pouco mais de 1 minuto antes de enxaguar a peça. Aí você pode ir pro tanque de lavar roupa. O enxágue serve para remover resíduos de película da peça.
  10. Deixe que a peça seque naturalmente, na sombra. Isso leva tempo. Estando completamente seca, aí você vem com o verniz e aplique-o para finalizar. O verniz protege e aumenta a resistência da pintura. Uma ou duas demãos resolve.

Onde comprar?

Olha, como eu já andei experimentando isso, posso dizer que no Mercado Livre há muitos vendedores negociando películas a metro, e kits de pintura hidrográfica. Mas eu já comprei também com o pessoal da Spacearts Customs, e só tenho elogios a eles.

E o meu, deu certo?

Bem, lembram daquela tampa de Expert que eu já pintei e repintei? Então, agora foi a vez dela na pintura hidrográfica. O resultado está nessa foto aqui embaixo.

 Infelizmente não ficou exatamente como eu queria. O recipiente é grande, mas não consegui colocar corretamente para que a película pegasse a lateral da tampa completamente. Ficou um pouco falhado, então tive que cortar uma película e aplicar ali do lado também, em separado. Aí grudou um pouco na parte de cima… Não ficou perfeito como eu queria. Mas ficou muito bom, bem melhor do que estava anteriormente. Eu daria uma nota 8,5 de 10.

Eu também brinquei de camuflar a capa do meu celular, um cartucho de MSX, essas coisas… Mas o verniz não gostou do plástico, então elas ficaram um pouco grudentas. Dá pra usar, mas no contato não está lá muito agradável…

 

Caixa de fita cassete personalizada.
Uma caixa de fita cassete personalizada com pintura hidrográfica.

E antes que alguém pergunte… Sim, eu fiz a parte de cima do Hotbit azul com pintura hidrográfica. O resto foi spray de tinta para plástico e muita, mas muita lixa d’água (aí eu entendi a importância dessa lixa).

Bem, espero que assim vocês se animem a personalizar seus micros clássicos, e dar uma incrementada neles. O álbum completo está aqui, e as vantagens fazem a gente parar de dar desculpa para nós mesmos. Mãos a obra!

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.

0 pensou em “Pintura hidrográfica, ou… Usando um balde para pintar seu micro.

  1. Conhece a piada dos dois cheques de trinta? Pois então, pinta de novo, desta vez de vermelho e não vai restar dúvida: vai ser um RedBit.

    Kkk brincadeira, parece ter ficado bem bonito, mal posso esperar para ver fotos do micro montado.

    Quanto ao nome que tal Hotblue?

  2. Se o objetivo for mergulhar, YellowBit soa bem melódico. Parabéns por inovar!

    * minha internet tá um caos.  difícil acompanhar nesses dias.