Arquivo diários:29/08/2013

Uma resenha de “Commodore: A Company on the Edge”

A história oficial, aquela, que às vezes é grafada com H maiúsculo, é contada pelos vencedores; no entanto, a história dos vencidos é tão, ou em muitos casos até mais, importante que a história dos vencedores para entendermos um determinado período.

O parágrafo acima, ou alguma variação menos confusa dele, deve ter servido de inspiração para Brian Bagnall escrever Commodore: A Company on the Edge. Não por acaso, boa parte do livro é gasto confrontando a história oficial sobre a Apple e os Steves, sobre Jack Tramiel (mostrando mais seu lado “bonzinho” e evitando ao máximo falar do escândalo da Atlantic Acceptance), ou mesmo tentando desenhar um Chuck Peddle praticamente como um semideus infalível (tirando sua passagem pela Apple, claro).

Talvez a maior crítica que se possa fazer ao livro, por ser independente do espírito do livro, foi feita pelo Digital Antiquarium; falta um trabalho sério de copidesque, porque em muitos momentos o livro é desnecessariamente maçante de se ler.

A esta altura do campeonato, imagino que o leitor deve estar achando que o livro é uma porcaria. Não, não é, pelo contrário! O livro é fantástico, seminal para entender a companhia de origem canadense e obrigatório na biblioteca de quem gosta de retrocomputação.

O autor vai fundo na busca das pessoas que fizeram a Commodore, não apenas os mais óbvios (Jack, Gould, Peddle, Yannes, Herd), mas vai descendo até os mais obscuros engenheiros. Na medida do possível, sai dos EUA e vai para as operações mundiais da Commodore. Se preocupa em tentar explicar o peculiar processo de decisão da empresa sob Jack Tramiel. Dá um grande espaço aos protótipos que não viram a luz do dia. Não tem medo do tecniquês e das minúcias técnicas, mesmo que acarrete prejuízo da clareza do texto. E ouve os atores da história.

(E a melhor parte é quando Jack Tramiel encontra uma criação de Sir Clive Sinclair. Brian narra tudo quase como um roteiro prontinho para um filme.)

O livro acaba em 1984, logo depois da saída de Jack Tramiel da empresa. Se, por um acaso, isso deixa uma sensação de frustração (Brian promete para este ano lançar um segundo livro, só sobre a era Amiga), por outro lado permite um exercício ótimo, que é ler os últimos capítulos do livro em concomitância com os últimos capítulos do sensacional Atari Inc.: Business is Fun (que você também deveria ler, e cujos autores foram entrevistados na Jogos 80).