Nos tempos atuais a Compaq é apenas uma marca de computadores de baixo custo da HP. Em outros tempos, a Compaq liderou a criação de dois mercados (clones de PC e, depois, Wintel). E é um pouco dessa história que Open: How Compaq Ended IBM’s PC Domination and Helped Invent Modern Computing, escrito por Rod Canion (co-fundador e primeiro CEO), conta.
Mas, antes, um primeiro capítulo que é uma declaração de amor ao mundo que foi criado e alimentado pela empresa fundada por ele, Jim Harris e Bill Munro.
Os três próximos capítulos contam a história do surgimento e da ascensão inicial da Compaq. Em muitos momentos semelhante a outras startups; em outros, semelhante a qualquer empresa que cresce muito rápido; e, também, a bem-sucedida engenharia reversa (em vez da pura e simples cópia) da BIOS do IBM PC – a mistura que gerou os Compaq Portable e Portable Plus.
Os capítulos subsequentes narram como a Compaq virou competidora direta da IBM, com histórias de sucesso, a utilização do termo “padrão da indústria” e uma impressão no ar de que tudo levaria ao showdown entre as duas empresas.
E no nono capítulo começa a parte central do livro: a batalha entre os rebeldes (Compaq) e o Império (IBM) – e sim, Canion usa o termo “Estrela da Morte” ao falar do IBM PS/2. Depois do susto inicial, a dúvida (a Compaq chegou a iniciar um projeto de tentar fazer engenharia reversa no MicroChannel), a decisão de confrontar, a construção da Gang of Nine, o lançamento do EISA, a maturação do bus enquanto o PS/2 (e o MCA) patinava no mercado, até o lançamento das primeiras máquinas com EISA e seu garoto-propaganda (e talvez o primeiro servidor x86 digno do nome e capaz de enfrentar os minis de HP e DEC) Compaq SystemPro. Tudo isso com direito a uma participação especial indireta de Scott McNealy (sem spoilers).
Ao vencedor as batatas, e este é o espírito do décimo-quarto, e último, capítulo. Com a vitória do EISA e do Gang of Nine sobre o MCA e a IBM, sobraram algumas reflexões “e se” e um “que fim levou” sobre a Compaq, em que ele tenta justificar sua saída do cargo de CEO por cansaço em vez de demissão do cargo pelo board (leia-se Ben Rosen, investidor inicial e principal acionista) e que ignora a compra da DEC (1998).
(Ainda tem um epílogo em que Canion analisa o mercado atual de computadores, smartphones e tablets à luz de quem criou o mercado atual do padrão da indústria. Tem alguns insights interessantes como a comparação entre os programadores de apps para iPhone e os programadores de programas para planilhas de cálculo dos anos 80.)
No final, é um livro que não é difícil de ler; é menos técnico que a maioria dos livros que resenhamos neste R+, já que basicamente conta a vida de Canion como CEO para um público não-técnico. E, principalmente, cumpre seu objetivo de evitar que a história da Compaq – e de como o padrão PC foi retirado das mãos da IBM para conquistar o mundo – seja esquecida.
A idéia de copiar o BIOS via duas equipes com comunicação controlada (método “clean room”) teria sido importante se a IBM tivesse processado quem não fez isso, mas ela só foi atrás de quem copiou direto. O Compaq não foi o primeiro clone (tivemos Eagle e Columbia entre outros) mas foi um sucesso por combinar o Osborn 1 com o PC num só produto.
O EISA foi um fracasso quase tão grande quanto o Microchannel. Seus números só foram um pouco melhores pois muita gente comprou máquinas EISA como se fossem ISA. É como nos EUA eles vendem pacotes com DVD e Blue Ray pelo mesmo preço que só o DVD para aumentarem os números do Blue Ray. Mas o EISA foi bem menos popular que o ISA+VESA, por exemplo. De qualquer jeito nenhuma destas soluções foi bem recebida pelo público até que a Intel juntou o NuBus da Apple, o conector do Microchannel e o plug-and-play do ISA no PCI.
A Compaq ousou ao lançar seu 386 antes de saber o que a IBM iria fazer com este processador. E foi nisso que ela minou a liderança da IBM.