Gente, a série não foi esquecida, mas está no final. Depois de mais de um ano, decidi investir algum tempo para escrever mais alguns posts a respeito. No futuro, pretendo compilar todo o texto em uma página aqui no Retrocomputaria (assim como os meus especiais de retr0bright e pintura), para facilitar a consulta de todos.

Então, ao invés de adicionar conteúdo nos posts antigos, decidi colocar num post novo alguns pontos que achei que cabem esclarecimentos, para então falarmos de formas de pagamento e proxies de compra, fora algo mais que falte. Acredite, eu tinha um roteiro pronto, com o que faltava, mas… Não sei onde foi parar. Logo, vai o que está na cabeça mesmo!

Frete “grátis”

Sempre é bom lembrar que sites de comércio eletrônico, principalmente os chineses (precisa lembrar do nome?), tem a opção de frete grátis. Mas isso você sabe muito bem, já foi cantado em verso e prosa há tempos e virou título de livro do economista Milton Friedman: “Não existe almoço grátis”.

Em resumo, alguém está pagando por isso. Ou o valor do frete é embutido no preço (eu faço isso o tempo todo), ou há alguma compensação dos operadores postais… Na China, por exemplo, o China Post custeia o frete das vendas (sim, eles tomam prejuízo) para fazer com que as empresas chinesas exportem mais.

Aí cabe uma divagação, sobre o drama que alguns fazem, por empresas públicas que dão prejuízo. E eu vou dar 2 exemplos nos EUA:

• Correio dos EUA tem prejuízo anual de US$15,9 bilhões. Sim, gente, aquele que foi eleito o melhor operador postal do mundo.
• E a Amtrak? Ela anda pensando em dar viagens de graça para escritores que se inspiram em viagens de trem para escrever, mas apesar do subsídio de US$ 1,3 bilhão anual, ela vira no vermelho há mais de 40 anos. Tem mais números no artigo a respeito na Wikipédia.

O que quero dizer é que o foco da empresa pública não deve ser o lucro, mas sim a prestação de serviços à comunidade como um todo. Claro que ter prejuízo é ruim para todo mundo, mas será que é ruim para quem precisa dos seus serviços, porque não tem mais opções e tem que usá-los? Não sei, é um caso a se pensar…

Mas nosso assunto é frete grátis, e não divagações sobre economia. Vamos lá… É um erro muito comum dos compradores achar que o frete grátis oferecido é o mais rápido, ou o que tem rastreamento. Conforme já falei aqui nessa série, vale lembrar que vários operadores postais de vários países dão a opção do modo de envio mais barato, mas sem rastreamento. Ou seja, você não sabe o que está acontecendo entre quem envia e quem recebe (ou seja, você). É um voo cego entre origem e destino.

No Brasil, quando uma encomenda é recebida, mesmo que ela não tenha número de rastreamento, ela recebe um ao entrar no Brasil. Mas o destinatário não tem acesso a esse número de rastreamento, ele existe para controle interno do próprio Correio. E outra coisa, não ser rastreada não quer dizer que ela não pode ser tributada. Sim, já vi encomendas serem tributadas mesmo sem serem rastreáveis. O comprador recebeu o telegrama e teve que ir lá retirar na agência, em alguns casos sem nem lembrar o que foi que comprou.

Logo, cuidado ao comprar: Confirme com o vendedor se tem número de rastreamento, e cabe a você decidir se compensa que venha com rastreamento ou não. Tem gente que acha que tudo deve ser rastreado. Outros acham que é livin’ la vida loca, e aí deixa ver no que vai dar. A maioria está no meio desse intervalo. Assim como aquele antigo programa de TV, você decide.

Global Shipping Program do eBay

Recentemente, fui até o eBay procurar um teclado “novo-velho” para mim. Meu querido IBM Model M de tantas digitações… Está com teclas falhando. Logo, é preciso uma manutenção mais… Persuasiva nele, para colocá-lo em uso. No futuro, falarei disso por aqui. Mas decidi comprar um outro Model M, um que seja padrão US mesmo (e aí eu uso como US Internacional), ou até um que seja internacional. Como as teclas são facilmente removíveis, eu tiro de um e coloco em outro, tudo resolvido.

E lá fui eu procurar. Achei no eBay um teclado em leilão. Usei meus poderes de sniper (mentira, fui até o AuctionSniper e cadastrei um lance) e arrematei por US$ 17,50. Ótimo! Só que o vendedor oferecia o envio pelo Global Shipping Program do eBay, o que significava que eu pagaria ainda US$ 62 de frete e uns US$ 47,70 de impostos. Logo, o teclado subiria para US$ 127,20.

Fui pesquisar o motivo, e descobri que isto era por causa do Global Shipping Program, do eBay. Em resumo, este é um serviço oferecido pelo eBay aos seus vendedores estabelecidos nos EUA, para intermediação de vendas para o resto do mundo.

É sabido de todos que os estadunidenses não gostam de vender pra fora, e convenhamos, é chato mesmo. Os formulários da aduana a serem preenchidos são longos, o valor do frete é alto (em qualquer lugar do mundo menos China, enviar pra fora é caro), entre outros problemas. Só que somos brasileiros, não desistimos nunca, então continuamos tentando. Se você quiser saber mais do programa, só clicar no link ali em cima pra ler. Eu devo depois acrescentar algumas informações a respeito, pra facilitar o nosso entendimento.

Mas uma coisa que o Global Shipping faz, é cobrar na fonte os impostos de importação, os famosos import charges, ou incoming taxes. Logo, o item já sai com o imposto pago, o que facilita muito o desembaraço alfandegário: Chegou aqui, a Receita já vê e libera. O item chega muito mais rápido ao comprador.

Só que no meu caso, não era vantagem alguma: O teclado é um item usado e de valor baixo (nem R$ 60), mas eu pagaria quase R$ 500 por ele. Conversei com o vendedor (muito atencioso, por sinal), expliquei a situação a ele, e que o imposto é cobrado por amostragem, que nem todos os itens são tributados.

Ele então fez o seguinte: Informou-se a respeito do envio para o Brasil na agência postal mais próxima dele; cancelou a venda pelo eBay; recolocou o teclado à venda por um preço fixo (Buy It Now) com o frete calculado pelo sistema do USPS (US$ 61,30), e me avisou. O preço final foi de US$ 78,80 (FOB, item + frete). Eu fui lá, comprei, paguei, e ele despachou. O resultado foi esse:

Data	Local	Situação
30/06/2016 13:05	CTE BENFICA – Rio De Janeiro/RJ	Encaminhado
	Encaminhado para CEE XXXXXX – Rio De Janeiro/RJ
29/06/2016 19:33	UNIDADE TRAT INTERNACIONAL RIO JANEIRO – Rio De Janeiro/RJ	Encaminhado
	Em trânsito para CTE BENFICA – Rio De Janeiro/RJ
29/06/2016 19:31	UNIDADE TRAT INTERNACIONAL RIO JANEIRO – Rio De Janeiro/RJ	Conferido
	Liberado pela alfândega
29/06/2016 11:48	CEINT RIO DE JANEIRO/GEARA – RIO DE JANEIRO/RJ	Encaminhado
	Em trânsito para RFB – Liberado sem Tributação/BR
29/06/2016 11:02	UNIDADE TRAT INTERNACIONAL RIO JANEIRO – Rio De Janeiro/RJ	Encaminhado
	Em trânsito para Fiscalizacao Aduaneira – Fiscalizacao Aduaneira/BR
29/06/2016 11:01	UNIDADE TRAT INTERNACIONAL RIO JANEIRO – Rio De Janeiro/RJ	Conferido
	Recebido/Brasil
25/06/2016 12:42	ESTADOS UNIDOS	Encaminhado
	Em trânsito para Unidade de Tratamento Internacional – BRASIL/BR
25/06/2016 12:41	ESTADOS UNIDOS	Conferido
	Recebido na unidade de exportação
23/06/2016 12:47	ESTADOS UNIDOS	Postado

Em negrito, as palavras mágicas que deixam todos os compradores felizes: Liberado sem tributação. Parti das seguintes premissas:

1. Quem faz esse exame são técnicos da Receita Federal, que na maioria não conhecem esse tipo de teclado. Normal, um Model M é um item velho hoje em dia – mais muito, muito, muito bom!
2. O preço FOB ficou acima de US$ 50, o que habilita para a tributação. Mas o valor do item discriminado ficou abaixo de US$ 50. Apostei que o técnico não fosse interessar-se em tributar um teclado velho cujo valor fosse de apenas US$ 17,50, apesar do frete ser mais de 3 vezes o valor do item em si.
3. O vendedor mandou-me o teclado como presente (gift). Sendo um teclado de valor baixo, talvez colasse essa de presente.

Pelo visto, colou. Enquanto escrevo essas linhas, ele ainda não chegou aqui em casa. Mas meus dedos mal podem esperar para ter um Model M novamente pra tamborilar.

Sobre esses acontecimentos, vale então ressaltar as morais adquiridas:

• Tente fugir do Global Shipping Program do eBay, se você não tiver pressa pra receber o item.
• Converse com o vendedor. Tem gente que é intransigente, mas este em particular, é um sujeito muito compreensivo.

Ah, o vendedor é o keith978, recomendo muito a todos.

Sobre tributação e agências de correios

Recentemente um amigo decidiu abrir uma caixa postal para receber itens pelo correio. É bem verdade que há agências dos correios onde o inferno se instaura. Nelas, os funcionários estão trabalhando em excesso, clientes chegam completamente desinformados (como aquela moça que veio com uma caixa amarrada com barbante e etiquetas de uma postagem anterior, e ainda perguntou: “Mas eu preciso mesmo forrar a caixa com papel pardo?“)… Com isso, as filas se prolongam. Uma hora ou mais para ser atendido. Haja paciência.

Aí, ele abriu uma caixa postal numa agência franqueada (aquelas cujo código é AGF), com objetivos nobres. Maiores informações você pode encontrar no site dos Correios. Hoje os custos estão na tabela abaixo:

Modalidade do serviço	Custo (em reais)
Assinatura Semestral	R$61,40
Assinatura Anual	R$87,30
Assinatura Bienal (2 anos)	R$150,00
Chaves	R$25,00
Manutenção (troca de fechadura e reparos)	R$35,50

A ideia dele é boa: Facilitar o recebimento de itens vindos do exterior, e também para envios feitos para fora, com um endereço fixo. E ele escolheu uma agência franqueada por 2 motivos:

• Tinha caixas postais disponíveis. Normalmente em agências próprias (código AC), todas as caixas postais estão ocupadas.
• BEM MAIS VAZIA. Sim, em letras maiúsculas para enfatizar. Tem uma franqueada que eu vou normalmente, e já consegui postar itens via PLP (Pré Lista de Postagem – Mercado Envios) em 3 minutos. Sim, foram 3 minutos para parar o carro, entrar, fazer todo o processo e sair.

Logo, é bem convidativo, né? É… Até chegar a primeira encomenda tributada. E chegou a primeira. E lá veio a temida etiqueta vermelha da Receita Federal (essa, aí do lado). Bem, lá foi ele na agência onde ele tem a caixa postal, pagar o imposto, e… Ele fica sabendo que essa situação não pode ser resolvida em agências franqueadas. Quando a encomenda é tributada, ela é remetida a uma agência própria dos Correios para que lá possa ser feita a cobrança do imposto e a efetiva retirada do item.

E o que tem mais na agência para o qual o item dele foi remetido? FILA. FILA. FILA e mais FILA. Logo, se você simpatizar com a ideia de usar uma caixa postal, verifique se a sua agência é franqueada ou não. Se for, saiba que a suposta vantagem de pegar pouca ou nenhuma fila para o pagamento de impostos non ecziste.

E o Mercado Envios?

O Mercado Envios é uma solução do Mercado Livre, semelhante ao Global Shipping Program do eBay. A principal diferença que ele não é usado para envios ao exterior. Basicamente é uma maneira de facilitar a vida de quem vende:

1. O comprador paga o frete ao Mercado Livre.
2. O site gera uma etiqueta de envio, que já tem inclusive o número de rastreamento.
3. O vendedor imprime a etiqueta e cola no pacote.
4. O vendedor vai até a agência dos Correios com o pacote pronto e uma lista, que é a PLP (Pré-Lista de Postagem).
5. Lá, o funcionário vai pedir pra você assinar (ou não), e colocar o número de um documento seu (ou não) numa folha, e vai entregar-lhe um comprovante.

Pronto, serviço feio. O frete é mais em conta (tirando a situação das cartas registradas) porque eles tem um grande acordo com os Correios, e com isso é possível praticar preços mais baratos para todo mundo. Funciona muito bem, eu já usei diversas vezes para vender itens pelo ML e não tenho do que reclamar.

Claro que há pessoas que tentam arrumar uma maneira de gastar ainda menos no frete usando Mercado Envios, mas isso é o tipo da coisa que não posso ficar explicando aqui, não é ético.

No próximo post, falaremos um pouquinho de formas de pagamento alternativas, para depois começar a falar dos proxies de compras. Até lá!