Uma não-resenha do MSX-VGA.

Nós, aqui do Retrópolis, não pedimos cortesia a nenhum fornecedor de hardware para fazer testes. Eu poderia fazer um discurso bonito, dizendo que não temos rabo preso com ninguém, etc e tal… Mas na verdade é que:

  1. Todos os projetistas são nossos amigos, então a gente fica sem graça de ir lá pedir;
  2. Todos passam por um monte de problemas para produzir hardware, e vocês devem lembrar as dificuldades que eles nos relataram em episódios anteriores.
  3. E a gente não acha justo numa comunidade tão pequena, ficar pedindo cartucho e placa em troca de uma resenha simpática.

Pois então, quando o Victor Trucco anunciou esse cartucho aí em cima, o MSX-VGA, fiquei bem interessado. Basicamente é um cartucho com uma implementação da Pico9918, que converte os sinais do VDP de um MSX 1 para VGA. Externamente, é um cartucho impresso em 3D com um conector VGA, onde você liga um cabo e liga num monitor comum, de PC. Mas será que é bom? É isso que veremos a seguir.

O Pico9918 é um projeto para substituir o TMS9918A por um Raspberry Pi Pico (chega de fazer a piada de que esse é “o Raspberry Pi da quinta série”). O Victor Trucco (conhecido de vocês em episódios por aqui) se baseou nesse projeto, do Troy Schrapel (que está aberto no github, com licença MIT e CERN Open Hardware Licence Version 2).

O Pico9918 é um substituto para o VDP TMS9918A (MSX 1, Colecovision, Coleco ADAM, TI-99/4A, Tomy Tutor/Pyuuta, NABU, Sega SG-1000/SC-3000, Sord M5, Memotech MTX500 e outros) usando o queridinho das comunidades retro, o Raspberry Pi Pico. A ideia é abrir, tirar o TMS e colocar o Pico 9918 no lugar.

O que o Trucco fez, foi colocar o Pico9918 em um cartucho. A lógica adicionada por ele garante que esse cartucho intercepte as chamadas do VDP de um MSX 1 e tenha uma nova saída por um conector VGA. É bom lembrar que:

  1. As saídas AV, RGB e RF continuam funcionando. Você ganha mais uma saída, a VGA.
  2. Só funciona em MSX 1. Ele foi feito para usar em MSX 1, e não sei qual seria o efeito se ligasse esse cartucho em um MSX 2, 2+ ou Turbo-R. Eu acredito que ele apenas faria a saída dos modos de vídeo compatíveis com o MSX 1 (SCREEN 0 a 3). A não ser que o autor resolva expandir o projeto para abarcar o V9938/V9958 (MSX 2 e 2+), o que depende dele, e não de nosso pensamento positivo.
  3. Você perde um slot. Se o micro tiver apenas um, lascou. Se tiver dois, você tem um. Quanto a ligar num expansor de slots… Não fiz. A princípio deve funcionar, mas isso fica para um próximo teste.

Então… Funciona?

A caixa do cartucho foi impresso numa impressora 3D. Dá pra ver que não é um acabamento primoroso – mas aí a culpa é da impressora 3D. Quanto ao resultado… Vamos às fotos.

Liguei o MSX, e apareceu o boot que todos nós conhecemos… Com o logo da PICO9918 no canto inferior da tela. O micro usado no teste é um Canon V-8, MSX 1 com 32 Kb de RAM e que funciona com uma fonte de 9 V. Só tem um slot, mas para o que eu iria fazer, ele atenderia perfeitamente.

Olha  o micro aí. Na tela, o meu já tradicional programa em BASIC, para imprimir as 16 cores do MSX 1 na tela.

Antes que você reclame da imagem, essa foi obtida ligando o micro na mesma TV, só que pela entrada RCA (AV). Tem como fazer esse programa imprimir bem mais rápido, inclusive resolvi deixar o código aí embaixo:

10 SCREEN 2
20 FOR A = 0 to 15
30 LINE (16*A,0)-STEP(15,191),A,BF
40 NEXT A
50 A$=INPUT$(1)

O detalhe curioso é que eu não sabia que era possível usar STEP dessa maneira no LINE, e foi uma dica do Giovanni Nunes. Mas sigamos.

Para vocês terem uma noção da qualidade, veja como fica a saída AV na TV, e a VGA.

A imagem ficou mais nítida no VGA. Eu ainda tentei traçar um círculo, para ver se ele preservava a razão 4:3, não sucumbindo à razão 16:9 (que é a razão usada por essa TV), mas não teve jeito, ele usa o modo wide.

Nota-se claramente o achatamento nas pontas do círculo. Algo que pode ser “corrigido” na configuração da TV. Outra coisa que ficou curiosa é a borda gigante que foi formada, nas SCREEN 1 ou 2.

Testei em outros micros (Hitachi MB-H50 foi um deles) e o resultado foi o mesmo.

Conclusão

O Trucco fez uma pré-venda no site dele, ao valor de R$ 227 + frete. A aquisição foi em janeiro de 2025.

Eu gostei do resultado. É uma ótima opção para quem tiver aquele MSX 1 e quiser ligar num monitor VGA. Como eu tenho vários MSX 1 na coleção, ficaria muito caro trocar os TMS pela PICO9918. Assim fica mais barato. Claro, MSXs 1 com um slot, só com expansor de slots mesmo.

Mas não adianta perturbar o Trucco com uma versão para MSX 2 ou 2+, mesmo porque poucos micros usaram os V9938/V9958, ao contrário do TMS9918A. Como eu disse, pensamento positivo não se solidifica como projeto.

Agora é aguardar ele colocar na loja. Caso você não saiba o endereço, é https://loja.victortrucco.com.

 

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.

4 pensou em “Uma não-resenha do MSX-VGA.

  1. Mas daria para fazer um cartucho assim usando o TN-VDP-V9958 que o Trucco também vende com saída HDMI, não ?

    1. Nesse caso, é um Tang Nano 20k, n é um Raspberry Pi Pico. Não sei como seria. Essa é uma pergunta que só o Trucco poderia responder.

  2. Tem um “bug” na segunda versão do programa, na linha:

    20 FOR A = 0 to 255

    Deveria estar 0 to 15 (16 cores). Notar que o número da cor é multiplicado por 16 para definir a posição das faixas.

    Do jeito como está o programa fica desenhando faixas coloridas aparentemente para fora da área visível da tela. Ex.: A última faixa começaria no pixel 1080, bem além da resolução de 255 do MSX.

    1. Verdade, tinha esse erro. Eu transcrevi o programa sem ver esse detalhe. Corrigido!

      Obrigado pelo toque.

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