Quinta do pitaco parte 3: Agora vai?


Então… O que eu acho disso tudo?

Eu soube a partir de um ouvinte e amigo nosso (não, não vou revelar quem foi), que o Nishi continuou desenvolvendo seus projetos de hardware nas universidades pelas quais ele passou. Esse amigo tem um amigo (eita) que lecionou em uma mesma instituição que o Nishi (aliás, ele passou por várias, mas whatever), e disse que viu os protótipos lá nos laboratórios.

Lembram do projeto do Universal Knowledge System? Se não, não se assuste. Acho que nem o Nishi lembra… Mas está aqui. Basicamente um projeto de computadores de baixo custo para aumentar o nível de informatização e aumentar a inclusão. Nada muito diferente do que já vemos hoje em dia com smartphones e foi tentado anos atrás com o Koolu, projeto encabeçado por Jon “Maddog” Hall, na época presidente da Linux International. Eu tenho um desses em casa, a propósito. Uma ótima máquina para baixar coisas da Internet. Mas divago.

Sobre o projeto, eu externei minha opinião, de que o Nishi é um megalomaníaco, e não retiro a minha posição. Por vezes a gente se dá bem nessa megalomania, mas ele tem ideias muito mirabolantes e que são complexas demais para serem concretizadas e o pior, serem postas em produção. Depois de velho, a gente olha pra trás e percebe que várias coisas que nós queríamos que fossem feitas nos anos 1980 pela Gradiente e pela Sharp do Brasil, esbarravam em inúmeros problemas que faziam não compensar o investimento. E depois desse tempo todo, eu passei a entender mais a respeito e estou em paz com essas decisões que foram tomadas pelos executivos dessas empresas.

Mas tem gente que gosta de viajar em ideias malucas. Uma pessoa me disse esses dias que  quanto mais maluca a ideia, melhor! Tem gente que adora ouvir e sonhar. E tem gente que não tem mais paciência para histórias mirabolantes, como eu. Eu lembrei da frase do dramaturgo americano Jerome Lawrence:

O neurótico constrói um castelo no ar. O psicótico mora nele. O psiquiatra cobra o aluguel.

Conheço pelo menos três pessoas na comunidade que viajam tanto na maionese, mas tanto que se juntarmos os três, seria formado um buraco negro da sandice. Fica de olho nos comentários desse post que um deles pelo menos vai se manifestar, vai por mim…

Logo, eu estou velho para viagens na maionese galáctica. E ultimamente as loucuras andam bem altas. Não sei se é a pandemia, não sei se é a situação econômica do país que faz a pessoa querer uma válvula de escape, não sei… Só sei que algumas mensagens me fazem perder um pouco da fé que (ainda) tenho em alguns seres humanos. Mas novamente… Divago.

Voltando ao projeto do Nishi, numa olhada rápida, eu já vejo vários problemas aí: Raspberry Pi, FPGA, comunidade, escalabilidade, etc. Não vou entrar muito a fundo, mesmo porque eu sou sempre chamado de pessimista (sou um realista esperançoso, como diria Ariano Suassuna), mas eu vejo uma grande chance de não dar certo. Também porque eu fui um dos que alimentei a esperança de que o Nishi iria tirar um trocado do bolso para completar a produção do primeiro lote de 5000 OCMs, e que viriam outros… E não veio.

Em resumo, eu sou bem reticente. Prefiro esperar e aguardar para ver no que isso vai dar. Mas sendo bem sincero, não tenho esperanças de que isso sairá do papel.

Mas então… O que eu faria se fosse o Nishi?

Eu acho que o Spectrum Next mostrou o caminho inicial por onde todo mundo gostaria que o MSX fosse. O Victor Trucco falou a nós no episódio 94 que o Spectrum Next, para ele, é como seria um ZX-Spectrum feito em meados dos anos 1990. Ele não tem pretensão de concorrer com Raspberry Pi, PC, Mac ou arquiteturas ARM. Mas seria uma maneira de atrair a comunidade para o seu projeto. Eu compraria um “MSX Next”, com um processador mais rápido e um “V9978” (isso fica para um outro post)… E estaria sorrindo a toa. E tenho certeza de que muitos MSXzeiros fariam o mesmo.

Claro que ele teria um problema muito grande, que seria a interlocução com a comunidade. Todo mundo tem um projeto de um MSX 3 na sua cabeça, e “o seu é o melhor que tem“. Parece até fã de Star Trek… Mas fazer essa interlocução, conversar com tanta gente apaixonada, pessoal que fez uma carreira trabalhando com microeletrônica/computação/artes porque começou com o MSX… Todo mundo acha que deveria participar do projeto. E caso alguém não lembre, já encabeçamos um movimento chamado “Say No To MSX Association“, justamente porque a comunidade foi solenemente ignorada. Esse protesto repercutiu tanto que foi inclusive assunto de uma coluna do B. Piropo, um colunista de informática que é quase retro (hihihi, foi mal aê, Benito!). Eu traduzi o manifesto para o inglês.

Outra coisa que ele não pode abrir mão é compatibilidade. Houve quem me disse que a compatibilidade não era fundamental, que iria engessar o micro, etc e tal. Eu discordo, porque em essência, compatibilidade é o que é o MSX, e tirar a compatibilidade reversa é ferir de morte um projeto que está nascendo. Falo por mim: Se eu não conseguir espetar meu cartucho do Zanac nele e jogar, não me interessa. Seria um MSX VR: uma máquina bonita, um hardware bacana, mas que não é um MSX para a maioria da comunidade.

Mas voltando ao roadmap… Aí, depois de lançar essa máquina (o formato… Sei lá qual seria), eu iria para IoT (que é um caminho interessante) e seguir em frente, com o MSX 4, 5, 1000, sei lá… Ele precisaria da comunidade do lado dele, e do jeito que está, há uma chance razoável de não dar certo, justamente porque ele não está se preocupando em ser simpático àqueles que mantiveram o padrão até aqui. Novamente, o erro que gerou o manifesto, anos atrás. Basicamente, ele é o dono da bola. Se controlar tanto assim o uso dela, corre o risco de ficar chutando ela contra a parede, sozinho.

Bem, se vamos ter novidades ou não em 2022, eu não sei. Em 2018 ele já tinha falado desse projeto, e falou mais nada. Agora soltou mais informações. Eu não sou pessimista, porque não sou um chato (não nesse assunto, normalmente eu sou muito chato). E não sou otimista porque não vou com qualquer um. Então prefiro continuar no meu realismo com esperanças.

De qualquer forma, ficamos no aguardo. Já me decepcionei muito com muitos projetistas de hardware que prometeram mundos e fundos, e nem entregar o que tinha sido acordado, conseguiu. A lista é longa. E ainda tem aqueles que se vitimizam, dizendo que ninguém os valoriza, só porque estão cobrando um hardware que ele prometeu entregar de volta há 3, 4 anos atrás… Bem, eu sugiro terapia e vergonha na cara para resolver primeiro os problemas de vitimização, já que acha que o mundo é sua oposição – e não é. Depois eu acho que teria direito de comentar os problemas dos outros.

Bem, é isso. Maiores novidades para breve, pessoal. Vamos aguardar.

PS: Olhando na MSX.org, vi um post de 2016 onde a MSX Association estava procurando contato com desenvolvedores… Pelo visto o movimento é lento, mas não está parado. Isso pode acender uma lâmpada de esperança no coração de uns. Em outros, só continuam esperando. Afinal das contas… Falar é fácil. Mostre os resultados.

Sobre Ricardo Pinheiro

Ricardo Jurczyk Pinheiro é uma das mentes em baixa resolução que compõem o Governo de Retrópolis. Editor do podcast, rabiscador não profissional e usuário apaixonado, fiel e monogâmico do mais mágico dos microcomputadores, o Eme Esse Xis.

4 pensou em “Quinta do pitaco parte 3: Agora vai?

  1. Tem um monte de livros bacanas e conhecimento técnico só em japonês e eles não se importaram de tornar acessível.

  2. Esse negocio de chamar uma placa “pelada” de MSX3 me lembrou aquele BBC micro:bit, ou seja, usam um nome conhecido em algo que tem relação distante com p original, tipo o Rock In Rio Lisboa que não é no Rio nem tem Rock.

    Concordo plenamente que o Spectrum Next é o
    equivalente espiritual do MSX 3.

    1. Não, ao incluir um (ou mais) zxnDMA a arquitetura ficou muito distante ao MSX. Até mapeador 4MB ficou pouco pra cartuchos. Em essência o DMA só muda todo estilo de programar.

      Puxa, Rock’n Rio nunca foi no leito sabe, dentro d’água.

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